É a floresta, estúpido!
O Brasil enfrenta uma crise hídrica e energética que ameaça nossa segurança e a retomada econômica. A prioridade deve ser preservar as florestas, porque elas são a fábrica das chuvas Nas eleições americanas de 1992, o marqueteiro de Bill Clinton, James Carville, cunhou uma frase que fez com ele vencesse o até então favorito George Bush: “É a economia, estúpido!” A mensagem que ele queria passar é a de que a economia é mais importante que os outros aspectos para definir os rumos de um país e também os resultados de uma eleição. Naquela época, o então presidente Bush falava sobre os triunfos da Guerra do Golfo, mas o que o cidadão americano queria mesmo era propostas que influenciariam diretamente na melhoria de sua qualidade de vida, o que ficou provado nas urnas. Se Carville tivesse que bolar um jargão para o Brasil de hoje seguindo a mesma lógica, certamente ele poderia pensar em uma frase com a mesma estrutura, trocando a palavra “economia” por “floresta”. Estamos vivendo uma crise hídrica sem precedentes, que fez com que as autoridades de todo o país tivessem que parar, em meio a uma crise sanitária, para discutir energia. Isso porque a falta de chuvas deixou os reservatórios das hidrelétricas com níveis perto do colapso, o que ameaça causar apagões em várias regiões. Os governos já começaram as campanhas de conscientização da população, pedindo para diminuir o tempo de banho ou lembrar de desligar as luzes. Mas o que essas mensagens deveriam estar pedindo é que todos parassem imediatamente de destruir nossas florestas. O mundo todo sabe disso, mas parece que os brasileiros precisam ser lembrados de porque parar o desmatamento é tão fundamental. As florestas são as produtoras de chuvas. Isso é ciência básica. As raízes das árvores são fundamentais para puxar a umidade do solo e subsolo e levar até as folhas, que passam a água para a atmosfera por um processo chamado evapotranspiração. Segundo os cientistas, cada árvore adulta lança até quatro litros de água por metro quadrado de copa todo dia. Por isso, a crise energética tem relação direta com o desmatamento. Se o problema é a falta de chuva, precisamos lembrar onde é que elas são formadas: na floresta. Um país que, como o Brasil, depende de energia hidrelétrica deve abraçar todas as árvores. As florestas precisam ser consideradas infraestrutura tanto quanto as turbinas ou os geradores. Com uma diferença importante. Se uma turbina ou gerador quebrar, você conserta ou troca. Já uma floresta destruída é muito mais difícil de ser recomposta. Uma pessoa que desmata a floresta tem que ser punida como alguém que vandaliza a turbina de uma hidrelétrica. Sem floresta não tem chuva. Sem chuva, não tem hidrelétrica. Sem hidrelétrica não tem energia. Aliás, mesmo que finalmente investíssemos em outras fontes de energia, ainda precisaríamos de água para beber e irrigar. “A floresta é nossa infraestrutura natural mais preciosa”, afirma Sergio Guimarães, secretário executivo do GT Infraestrutura, uma rede de mais de 40 organizações. “A floresta atua como regulador do clima no planeta todo e estamos chegando ao ponto de não retorno na maior floresta do Brasil, a Amazônia. Se ultrapassarmos esse limite, todo o bioma que gera as chuvas para o Brasil e equilibra o clima do mundo, começa a entrar em colapso sozinho, secando e virando uma savana com solos arenosos expostos. Precisamos impedir isso agora.” E ainda tem a crise econômica, para a qual uma das saídas é explorar a floresta em pé, de maneira sustentável, sem prejudicar a nossa fábrica de chuvas. Um estudo recém publicado acaba de mostrar que apenas a exploração mais inteligente dos produtos sustentáveis da floresta que já comercializamos poderia render R$ 10 bilhões por ano ao Brasil. Não é muito difícil enxergar: é a floresta, estúpido! Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Revista Exame. Foto: Cascata do Caracol, no Rio Grande do Sul (Renato Soares/Divulgação)
Quando incluídos os custos ambientais, térmicas a gás são economicamente inviáveis
Recém-lançado, estudo do Escolhas analisou as taxas de retorno de investimentos em hidrelétricas, térmicas a gás natural e óleo combustível, eólicas e solares fotovoltaicas Na semana em que o governo anunciou medidas paliativas ante a crise hídrica e energética que se instalou no País, causada pela falta de planejamento e gestão dos recursos hídricos e energéticos, o Instituto Escolhas divulga estudo inédito mostrando que as térmicas a gás natural (aposta errada do governo para conter um possível apagão) são economicamente inviáveis – não trazem uma taxa interna de retorno (TIR) para o investidor – quando incluídos os custos ambientais na conta. Utilizando os mesmos modelos econômico-financeiros adotados pelo mercado, o estudo “Como incluir o meio ambiente na matemática dos negócios?” analisou a rentabilidade financeira de usinas hidrelétricas na Amazônia, termelétricas a gás natural e a óleo combustível, eólicas e solares fotovoltaicas, incluindo em seus fluxos de caixa os custos dos impactos ambientais dos empreendimentos, como as emissões de gases de efeito estufa e o uso da água – o que ainda não é feito. De acordo com Larissa Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos do Escolhas, assim como em outros setores, os investimentos no setor elétrico são decididos e priorizados pelas empresas com a análise de modelos econômico-financeiros, que projetam os fluxos de caixa dos projetos de usinas e calculam a sua rentabilidade, indicada pela Taxa Interna de Retorno (TIR). “O dinheiro é aplicado nas usinas com TIR mais alta, que são mais rentáveis. Ao incluir os impactos ambientais nos modelos de negócio, deixando de tratá-los como meras externalidades, o estudo dá a real dimensão da rentabilidade das usinas, possibilitando que os investimentos sejam priorizados para as fontes renováveis, como eólica e solar, que possuem boa rentabilidade”. Destaques do estudo Os resultados mostram que as termelétricas a gás natural e a óleo combustível, quando operam a plena carga no sistema elétrico, não possuem rentabilidade financeira e investidores terão prejuízos ao apostar nessas usinas. Já as hidrelétricas na Amazônia apresentam uma rentabilidade bastante reduzida e deixam de ser atrativas para o investidor. De acordo com o estudo, a rentabilidade mais alta se encontra em usinas eólicas e solares, já que nos dois casos os custos ambientais são bastante reduzidos e quase não impactam nas respectivas taxas de retorno de investimento. Como conclusão, o estudo traz uma proposta de método prático para que os investidores e a proteção ao meio ambiente caminhem juntos, com a inclusão dos custos ambientais nas análises empresariais de rentabilidade financeira para novos investimentos no setor elétrico. Além disso, destaca ser fundamental que os bancos adotem mecanismos, como uma matriz de riscos ambientais, para que as avaliações ambientais dos financiamentos tenham critérios objetivos e que os recursos sejam direcionados para projetos alinhados com os compromissos dessas instituições com o clima e o meio ambiente. Confira aqui o sumário na íntegra. Texto: Comunicação Instituto Escolhas