Em ação inédita, árvore ameaçada de extinção consegue refúgio na Embaixada da Noruega

Jatobá de seis metros de altura foi levado à porta da embaixada em mobilização contra a aceleração do desmatamento Brasília, 21 de setembro de 2021 – Um jatobá de seis metros de altura, espécie ameaçada de extinção, teve seu pedido de refúgio aceito na manhã desta terça-feira na Embaixada da Noruega. A iniciativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e do Grupo de Trabalho Infraestrutura e Justiça Social buscava chamar a atenção pública mundial para a destruição em curso acelerado dos biomas brasileiros, em especial da Floresta Amazônica. A árvore foi levada à entrada da embaixada, onde Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib, leu uma carta com um pedido de socorro. O apelo foi aceito e o jatobá foi transportado para dentro do espaço da representação norueguesa. Trata-se de um acolhimento simbólico para representar a luta de ambientalistas pela preservação da nossa floresta. Segundo definição do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (ACNUR), refugiados são aqueles que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição, como também devido à grave e generalizada violação de direitos e conflitos. A escolha pelo pedido de refúgio na Embaixada da Noruega é por ser o primeiro país a proibir o desmatamento. “Esse pedido de refúgio pode parecer estranho ao homem branco que vive apartado do mundo natural e se considera acima das árvores, mas a ancestralidade sempre ensinou que o sentido da vida é o coletivo. Esse pedido é um clamor pela vida de todas as espécies ameaçadas por uma visão corrompida e ultrapassada de convívio com a natureza”, alertou Sonia Guajajara. As espécies de plantas e animais dos biomas brasileiros, nesta ação representadas por um jatobá, estão sob ameaça. Estudo recente publicado na revista científica Nature revela que o fogo na Amazônia, provocado pela ação humana, pode ter atingido 95,5% das espécies de plantas e animais vertebrados conhecidas da floresta tropical. O desmatamento fora de controle aproxima a maior floresta tropical do mundo do seu ponto de não retorno. Se o ritmo atual de devastação for mantido (ou aumentar), este “ponto de não retorno” pode chegar já em algum momento entre 15 a 30 anos, como vem alertando o climatologista brasileiro Carlos Nobre. “Esse inusitado pedido de refúgio mostra a gravidade da situação de milhões de árvores e outras formas de vida que estão sendo exterminadas sem ter a quem recorrer no Brasil, onde autoridades responsáveis por sua proteção muitas vezes estão aliadas aos destruidores. Cabe a nós, cidadãos, nos posicionarmos em defesa dessa e de milhões de árvores em busca de uma solução, que começa pela implementação da ‘5 medidas emergenciais de combate ao desmatamento’; o que permitirá que milhões de árvores, nossas florestas e seus habitantes possam viver em paz no Brasil, prestando seus relevantes serviços climáticos para nós e todo o planeta”, afirmou Sérgio Guimarães, Secretário Executivo do GT Infraestrutura. A ação visa também justamente retomar as “Cinco Medidas Emergenciais para Combater a Crise do Desmatamento na Amazônia”, propostas por mais de 60 organizações e coletivos da sociedade civil brasileira. Elas incluem, além da moratória ao desmate, o endurecimento das penas aos crimes ambientais, inclusive o bloqueio de bens dos 100 maiores desmatadores da Amazônia; a retomada imediata do PPCDAm — o plano de controle do desmatamento que vigorou por cinco mandatos presidenciais até ser engavetado por Jair Bolsonaro; a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e criação de 10 milhões de hectares em unidades de conservação; e a reestruturação do Ibama, do ICMBio e da Funai, desarticulados e aparelhados pelo atual governo. A íntegra do documento está publicada no site www.arvorerefugiada.com.br e chama para a assinatura de uma petição pelo fim do desmatamento. A campanha tem ainda o apoio da Climate Reality Brasil, organização com o objetivo de informar a sociedade sobre os efeitos das mudanças climáticas no planeta, e da Amazon Watch, organização sediada na Califórnia que trabalha há 25 anos junto a povos indígenas no Brasil, Peru e Equador na proteção da Amazônia. “Nosso meio ambiente está sob ataque de pessoas e estruturas que deveriam protegê-lo. Precisamos chamar a atenção para essa tragédia em curso, e mobilizar muito além da comunidade internacional para reverter esse cenário”, disse Renata Moraes, gerente do Climate Reality Brasil. Conheça mais no site www.arvorerefugiada.com.br Imagens: Estevão Ciavatta