Websérie “Tapajós: Uma breve história da transformação de um rio”
A produção foi aprovada em 14 festivais nacionais e internacionais e recebeu quatro premiações “Tapajós: uma breve história da transformação de um rio” é uma websérie que se passa em Miritituba, um distrito no Pará que, nos últimos anos, foi transformado em uma plataforma de exportação de soja. A animação é composta por três episódios, e cada um deles é narrado por um morador de Miritituba. Juntos, eles contam histórias de uma Amazônia que vai muito além da grande floresta exuberante de rios caudalosos. A produção audiovisual nasceu a partir do acompanhamento que o Inesc tem realizado sobre o contexto de desmonte das políticas socioambientais e, mais especificamente, sobre o projeto Arco Norte. Este visa a intensificação dos investimentos em logística no norte do país para transformar as bacias hidrográficas amazônicas em corredor de exportação de commodities como soja e milho. Assista: os episódios da websérie podem ser assistido no canal do Youtube do Inesc a partir do dia 20/10. Prêmios A produção foi aprovada em 14 festivais nacionais e internacionais e recebeu quatro premiações. Internacionais London Web Fest (Londres, 2021). Best Animation Festival International du Film documentaire Amazonie-Caraïbes à Saint-Laurent du Maroni – FIFAC (Guiana Francesa, 2021). Melhor web-série Thessaloniki Free Short Festival – TAF (Grécia, 2021) II Mostra Latino-Americana de Filmes Etnográficos (Online, 2021) Nacionais 44° Festival Guarnicê de Cinema (São Luís MA, 2021) RioWebFest (Online, 2021) 11° Festival Internacional de Animação de Pernambuco – ANIMAGE (Online, 2021). Menção Honrosa do Júri. 5º FCM Festival de Cinema de Muriaé (Online, 2021) 14º Dia Internacional da Animação de Goiânia (Online, 2021) 4o Festival de Cinema de Santa Teresa –FECSTA (Online, 2021). Melhor Animação 8º Festival Velho Chico de Cinema Ambiental (Penedo-AL, 2021) 13ª Edição do Prêmio Corvo de Gesso (Jacareí – SP, 2021) Festival de Cinema de Alter do Chão (Online, 2021) Festival de TV e Cinema de Muqui – FECIM (Online, 2021) Sinopse Moradores de Miritituba, uma pequena vila no coração da Amazônia, lutam para sobreviver em meio aos grandes portos de exportação de soja. Fonte: Inesc
Crise hídrica é o preço que pagamos pelo desmatamento
Para especialista do ITA, momento crítico era anunciado. Reverter o problema exige aprender com o passado e pensar em soluções também para o longo prazo Estamos vivendo uma crise hídrica e energética sem precedentes. A bandeira vermelha já virou o “novo normal” e os especialistas não são muito otimistas quanto a possíveis novos aumentos nas contas de luz e racionamentos de água. No entanto, apesar dos constantes alertas sobre a relação inegável dessas crises com o desmatamento, a cada novo levantamento, a área desmatada da Amazônia, maior floresta tropical do mundo, só cresce. Os últimos estudos alertam, inclusive, para o risco de ela virar uma savana. A falta de chuvas é apenas uma consequência disso. “Precisamos lembrar que essa é uma crise anunciada”, afirma o professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Wilson Cabral, que participou do novo episódio do podcast Infraestrutura Sustentável, que voltou a tratar do assunto. O especialista afirma não ter dúvidas de que esse já é o preço que estamos pagando pelo desmatamento. “Eu não diria só da Amazônia, mas a degradação de ecossistemas de forma generalizada”. Ele lembra que a Amazônia é peculiar, porque quando derrubamos a floresta estamos prejudicando também os rios voadores, cuja umidade é distribuída também para outras regiões. “Isso está relacionado com a agricultura, os níveis dos rios, o abastecimento dos reservatórios das hidrelétricas, precipitações, todos os usos possíveis e imagináveis da água”. A agricultura depende da floresta mas, em muitos casos, tem sido a grande vilã do desmatamento, o que Wilson Cabral descreve como “um ciclo vicioso” ou “uma retroalimentação negativa”. Ele explica que à medida que a agricultura avança e o desmatamento também, a atividade cria dificuldades para ela mesma, além de para toda a sociedade. O que podemos fazer para reverter, ou pelo menos não piorar, essa situação num momento em que as mudanças climáticas estão cada vez mais presentes para cobrar essa conta? Antes de responder a essa pergunta, Wilson Cabral diz que é fundamental lembrarmos porque não fizemos algo antes, o que para ele está relacionado ao fato de que, até muito pouco tempo atrás, não se pensava a longo prazo. Assim, como os efeitos do desmatamento não eram sentidos de forma tão imediata, a sociedade foi investindo em modelos de produção e consumo acelerados que nos trouxeram até aqui. “Agora não temos mais tempo a perder e as ações precisam ser emergenciais”, afirma. “O tempo urge e não há mais esse alongamento entre o tempo da causa e do efeito. Como diz a Greta Thunberg, precisamos lembrar que não há planeta B”, completa. Acontece que o que nós fizermos hoje, para o bem ou para o mal, também vai levar um tempo para gerar resultados. Por isso mesmo, Wilson Cabral acredita que precisamos olhar para o longo prazo. Ele exemplifica: estamos vivendo uma crise hídrica que, pela nossa matriz energética ser muito dependente das hidrelétricas, também significa uma crise energética. Para lidar com o problema, o acionamento de termelétricas tem sido considerado uma boa ideia. Mas essa ação tem um efeito de retroalimentação negativo muito importante, pois aumenta o lançamento de carbono na atmosfera, intensificando o impacto climático que ajudou a gerar esses períodos de seca prolongados, que geraram a crise hídrica. Ou seja, precisamos ser mais inteligentes que isso e pensar em soluções que gerem mais co-benefícios e menos impactos sobre o próprio modelo. A transparência na gestão dessas crises é um fato importante nesse contexto. A sociedade precisa saber a gravidade da situação e tudo o que está sendo feito, pois será ela a principal afetada por qualquer decisão. Wilson Cabral destaca que as previsões de precipitações para os próximos meses não são otimistas e medidas para isso já deveriam estar sendo tomadas agora. “Não campanhas para as pessoas tomarem menos banho, mas medidas concretas, inclusive em termos de eficiência energética e redução de consumo por outros atores (como a indústria)”, afirma. Ao mesmo tempo, precisamos investir em soluções que tenham resultados no médio e longo prazo, como fazer a restauração ecológica de bacias hídricas e zerar o desmatamento, não só da Amazônia, mas também de nossos outros biomas. Tudo isso também pede planejamento e integração de agendas, pois todos os atores precisam fazer suas partes. Se não, continuaremos vivendo a crise e contribuindo para agravá-la. Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.