Pedido de refúgio de árvore instiga debate sobre presente e futuro

Debate, transmitido durante a Conferência Brasileira de Mudança do Clima 2020, ressaltou necessidade de uma infraestrutura que seja boa para as pessoas e para o planeta

Acordo de Paris, economia de baixo carbono, pressão internacional e o pedido de refúgio de uma árvore estiveram no centro do debate do webinar “Queimando o futuro”, que também destacou o papel dos jovens frente às mudanças que precisam ser feitas para que o Brasil viva uma retomada econômica verde. A conversa, realizada pelo Instituto Ethos, foi transmitida nesta quinta-feira (5/11), durante a Conferência Brasileira de Mudança do Clima 2020.

O moderador, Fernando Gabeira, começou lembrando que anualmente são destruídas milhões de árvores e que esse é um problema global urgente. “Hoje alguns países até estudam maneiras de restringir isso, pois, além da vida, o carbono emitido aumenta os perigosos para o aquecimento global”, pontuou, explicando que, por isso, uma árvore gigante, como o jatobá, pede refúgio.

“O jatobá não está criticamente ameaçado de extinção pelos critérios científicos, mas é uma espécie que depende profundamente de grandes territórios florestados. Por isso, mesmo que ainda tenhamos indivíduos, o desmatamento pode fazer com que, subitamente, ela seja ameaçada de extinção”, detalhou o Coordenador Estratégico da Climate Reality Brasil, Sérgio Besserman. “A ideia do refúgio é para conectar uma espécie vegetal a nós, os indivíduos, juntar a imagem da humanidade ameaçada pelo desmatamento tanto quando uma árvore gigante da Amazônia. A embaixada que ela pede refúgio é a mente e o coração de cada um de nós”, completou.

Para a jovem indígena do povo Borari de Alter do Chão, Jaciara Borari, o pedido da árvore é simbólico. “Os seres vivos vão continuar morrendo, inclusive animais e plantas que nem foram catalogados, que podem ser extintos antes de conhecermos. Não temos para onde correr e também não queremos correr do nosso local”, lamentou, citando as queimadas e as grandes obras, que não levam em conta o dano ambiental e nem as comunidades que vivem na floresta. “Queremos continuar nas nossas terras para cuidar dessa vida fundamental para o equilíbrio de todo o planeta. Na floresta está o reservatório genômico da nossa biodiversidade que o mundo admira e demanda. Essa é a nossa riqueza.”

O Secretário Executivo do GT Infraestrutura, Sergio Guimarães ressaltou a importância econômica da floresta em pé, que, segundo ele, é um ativo muito maior que os gerados pela floresta no chão. Esse valor tem sido identificado pelos fundos de investimento, que estão ameaçando deixar de investir no Brasil para pressionar pelo fim do desmatamento. “Essa pressão é uma boa notícia e demonstra a urgência da questão. Nós estamos queimando uma Biblioteca de Alexandria a cada ano”, observou. Ele apontou a exploração sustentável como uma das possibilidades para o Brasil. “Temos um enorme potencial econômico ainda não descoberto. É fundamental que esse ativo continue de pé”. Sérgio ainda destacou que a retomada econômica precisa se basear em uma economia de baixo carbono e uma infraestrutura ligada a ela, que leve em conta as necessidades das comunidades da Amazônia. “É esse caminho que o Brasil precisa descobrir e discutir”.

Os jovens têm papel fundamental nessa construção, sabem disso e estão cada vez mais interessados e querendo participar da discussão ambiental, ressaltou a coordenadora do Engajamundo, Nayara Amaral. “Somos 25% da população brasileira, que vão nos representar não só no futuro, mas também somos o presente e já estamos sofrendo com todos os impactos da crise climática”, afirmou. Para ela, é importante que cada vez mais jovens entendam o seu papel e pressionem pelo fim de formas ultrapassadas de exploração. “Se a gente não se mobilizar e mudar a forma como as coisas estão acontecendo hoje, não vamos ter um futuro ao qual chegar.”

Quer assistir ao debate completo? Acesse o Youtube do Instituto Ethos.

Imagem: vídeo/ Africa

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