Por *Sérgio Guimarães | Publicado originalmente em Um só Planeta
Entre as primeiras medidas de Donald Trump em seu novo governo, ignorando a clara realidade das tragédias climáticas em escala global e contrariando o consenso de milhares de cientistas em todo mundo, retira os Estados Unidos do acordo de Paris, reverte políticas de proteção ambiental e anuncia iniciativas para aumentar a produção de petróleo e gás nos Estados Unidos. Em suas declarações, Trump insistiu em dizer que “as mudanças climáticas são uma farsa”.
Palavras e ações que, ao mesmo tempo, contribuem diretamente para o aumento na intensidade e frequência de inundações, furacões, grandes incêndios, secas severas e ondas de calor; com consequências cada vez mais dramáticas para a vida humana, a sociedade, o meio ambiente e a economia. Em 2024 os eventos climáticos extremos resultaram em cerca de 11.000 mortes em todo o mundo e causaram perdas econômicas estimadas em US$ 320 bilhões, segundo a Munich Re, uma das maiores empresas da área de seguros do mundo, sediada na Alemanha.
No Brasil, por sua vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido por seu compromisso histórico com pautas sociais, pressionou publicamente o Ibama pela liberação do licenciamento de petróleo na foz do Amazonas, o que representa uma ameaça direta a um dos biomas mais importantes do planeta. Essa contradição entre o discurso ambientalista e ações práticas, revela o tamanho da dificuldade de entendimento da gravidade das crises ambiental e climática já instaladas.
Além disso, iniciativas do governo brasileiro para implantar grandes obras na Amazônia — ferrovias, rodovias, hidrovias e portos, que incluem projetos altamente polêmicos, como a Ferrogrão e a BR-319 — reproduzem e aprofundam um modelo de ocupação que desconsidera os impactos ambientais e sociais; cujas consequências mais graves são o aumento do desmatamento, a destruição de habitats naturais e o deslocamento forçado de comunidades tradicionais e povos indígenas, ampliando as pressões sobre uma das regiões mais sensíveis e estratégicas para o equilíbrio climático global.
A situação é altamente inquietante, pois decisões de líderes globais como Trump, colocam mais “lenha na fogueira” do aquecimento global e somam forças para agravar ainda mais o cenário de colapso ambiental e climático. Se continuarmos nesse caminho, eventos catastróficos se tornarão ainda mais frequentes, resultando em perdas gigantescas e irreparáveis. Faces da crise global que ignora fronteiras e afeta todas as classes sociais; atingindo de maneira desproporcional os mais pobres, que sofrem as piores consequências.
Diante disso, é ainda mais urgente medidas que reduzam de maneira substancial as emissões de gases de efeito estufa e a aceleração da transição para energias renováveis (solar, eólica, geotérmica ou hidrogênio verde). Ao mesmo tempo, é essencial reduzir radicalmente o desmatamento, o que também é crucial para mitigar as mudanças climáticas e garantir a sobrevivência das comunidades que dependem diretamente das florestas.
Em resumo, diante da gravidade e complexidade da situação, é urgente caminhar, ou melhor, correr na direção oposta das atuais políticas econômicas e ambientais desastrosas que aceleraram o colapso climático. Precisamos urgentemente de decisões corajosas bem articuladas e colaborativas, se realmente quisermos somar forças para “adiar o fim do mundo”.
*Sérgio Guimarães é engenheiro civil, especialista em políticas ambientais; é secretário executivo do GT Infraestrutura e Justiça socioambiental (GT Infra @gtinfraestrutura).