As áreas urbanas precisam ser pensadas para prestar bons serviços e promover desenvolvimento sustentável e alinhado com o perfil do território
Quando falamos em preservação da Amazônia, nossa mente vai no automático para a floresta, os rios, comunidades ribeirinhas. Mas, você já parou para pensar no papel das cidades e de suas populações para conseguirmos, de fato, proteger nossas áreas naturais? Precisamos lembrar que, assim como no restante do país, a maior parte da população da região Norte vive nas cidades: Belém tem 1,5 milhão de habitantes e Manaus, mais de 2 milhões. Tudo está interligado e as organizações que trabalham com o assunto sabem que sem olhar o desafio social das populações urbanas, não se resolve as dificuldades ambientais da região.
As cidades, na medida em que se desenvolvem, passam a interferir ainda mais no desenvolvimento socioeconômico de suas regiões, pois demandam mais recursos naturais, insumos das zonas rurais e, ao mesmo tempo, absorvem uma população rural migrante em busca de educação, saúde e, às vezes, de emprego. Esse fluxo entre pessoas, serviços e produtos acentua os problemas que a cidade já tinha, como mobilidade urbana, saneamento básico e moradia. “Com o inchaço populacional das cidades amazônicas, esses problemas ganham uma outra importância na região e na visão de sustentabilidade do território”, explica Fabiano Silva, coordenador da Fundação Vitória Amazônica (FVA), organização que atua na região há mais de 30 anos.
O coordenador da FVA explica que a forma como essas cidades se desenvolvem tem tudo a ver com a floresta e o desenvolvimento urbano precisa ser pensado de forma com que esses centros urbanos sejam promotores de serviços e produtos efetivamente sustentáveis e alinhados com o perfil do território. Os grandes projetos, como estradas ou linhas de transmissão das hidrelétricas, conectam cidades. No entanto, quase nunca beneficiam os moradores desses municípios, gerando mais prejuízos do que ganhos, como aconteceu com a região de Altamira (PA), com a construção de Belo Monte. A população viu explodir o valor imobiliário e o custo de vida, além do aumento da pressão sobre os sistemas de saneamento e saúde pública. É o que o GT Infraestrutura, rede de mais de 40 organizações socioambientais, tem chamado de “infraestrutura na Amazônia e não para a Amazônia”.
O que pode ser feito? Pensar as cidades como projetos de infraestrutura, de maneira planejada, com função e objetivos, é um começo, segundo Fabiano Silva. Além disso, o perfil do território deve ser levado em conta na hora de pensar esses projetos. “Cidades da Amazônia precisam ser pensadas de forma diferente, tanto na sua composição urbanística, mas também na sua função terriotorial”, explica. Se uma cidade tem potencial turístico, madeireiro ou pesqueiro, é importante que seus equipamentos urbanos e de logística sejam pensados com base nisso. Esse é o assunto do oitavo episódio do podcast do GT Infra.
Vale a escuta!
Foto: A cidade de Belém tem 1,5 milhão de habitantes. A conservação da floresta que a cerca depende das soluções urbanas (Alexandre Mansur/Reprodução)