Blog Gt Infra

Universidade Federal do Pará, Movimento Xingu Vivo e International Rivers promovem evento online e gratuito sobre impactos da mineração nos dias 14 e 15 de outubro

Brasil, 08 de outubro de 2021 – Nos dias 14 e 15 de outubro, a Universidade Federal do Pará recebe o evento online Mineração, Empresas Transnacionais e Povos e Comunidades Tradicionais. Organizado pela Clínica de Direitos Humanos da Amazônia (CIDHA/UFPA), Defensoria Pública do Estado do Pará, Movimento Xingu Vivo, Instituto Socioambiental, Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente (AIDA) e International Rivers, o Seminário Internacional irá discutir as atividades mineradoras e seus impactos socioambientais, com foco no projeto de mineração da Belo Sun na Volta Grande do Xingu. O evento contará com a presença de representantes de comunidades locais, de órgãos governamentais envolvidos no licenciamento ambiental, pesquisadores, defensores e promotores públicos. A iniciativa é gratuita sendo transmitida globalmente, e os interessados podem se inscrever até o dia 14 de outubro no site oficial do evento. “Este evento é importante para dar visibilidade aos impactos socioambientais que grandes projetos, como o da mineração na Volta Grande do Xingu, causam na Amazônia, região de riquíssima diversidade social, cujos direitos e modos de vida são desrespeitados em políticas públicas de desenvolvimento e no licenciamento de obras”, conta Elis Araújo, Assessora Jurídica da International Rivers. “O evento será uma oportunidade para a população impactada falar e para que técnicos de órgãos estatais e pesquisadores da academia expliquem as falhas e omissões do licenciamento desta obra”, finaliza. O Projeto Volta Grande do Xingu é liderado pela empresa canadense Belo Sun Mining Corp no município de Altamira, Estado do Pará. A empresa quer instalar o maior projeto de mineração de ouro do Brasil a alguns metros do rio Xingu, território reconhecido por sua biodiversidade e por ser habitado por vários povos indígenas e comunidades tradicionais, já impactados pela construção de Belo Monte. Para a exploração do ouro, o projeto prevê o uso de cianeto no manejo dos minérios – substância extremamente tóxica para o solo e os corpos hídricos, oferecendo um alto risco de contaminação do rio e na qualidade da água. Desde seu início, o projeto tem enfrentado várias ações judiciais por parte do Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Defensoria Pública do Estado e Defensoria Pública da União. Elas apontam diversas falhas no processo de licenciamento e nos estudos técnicos do projeto, e pedem pela anulação das licenças e pela suspensão do processo de licenciamento. Uma delas resultou em uma decisão judicial, ainda válida, que suspendeu sua Licença de Instalação (LI). O evento contará com uma mesa para tratar das ações judiciais em curso. “O evento contará com a presença de representantes da Nações Unidas, os quais atuam como observadores internacionais buscando informações e recomendações aos Estados para prevenir e reparar violações de direitos humanos”, conta a Profa. Dra. Cristina Terezo, Clínica de Direitos Humanos da Amazônia (CIDHA/UFPA). “O Seminário não é apenas um evento acadêmico, mas visa dar visibilidade a comunidades que foram invisibilizadas no processo do projeto”, conclui. Confira a programação do evento: 14/10/2021 (Quinta-Feira) 14h – Abertura 14h15 – 16h30 – Painel “Impactos socioambientais do ‘Projeto Minerário Volta Grande do Xingu’ e medidas de mitigação e controle” Mediação: Andreia Barreto, Defensoria Pública do Pará, Brasil. Participantes: Idglan Cunha (Cooperativa dos Garimpeiros, Brasil), Carolina Reis (Instituto Socioambiental (ISA), Brasil), Sarah Lima (Núcleo de Pescadores e Guardiões da Volta Grande do Xingu, Brasil), Ingo Wahnfried (Universidade Federal do Amazonas, Brasil) e Steven H. Emerman (Malach Consulting Specializing in Groundwater and Mining, EUA) 15/10/2021 (Sexta-Feira) 09h – 11h – Workshop sobre consulta prévia em tempos de pandemia (exclusivo para convidados) Facilitadora: Profa. Dra. Liana Amin (Universidade Federal da Grande Dourados, Brasil) Organização: Movimento Xingu Vivo para Sempre & Instituto Socioambiental. 14h – 15h30 – Painel “Projetos Minerários e Populações Tradicionais: cenário global” Mediação: Cristina Terezo (Universidade Federal do Pará, Brasil) Participantes: David R. Boyd (Relatoria Especial sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente, Canadá), Dante Pesce (Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos, Chile) Dinaman Tuxá (Articulação dos Povos Indígenas, Brasil) 16h – 18h30 – Mesa redonda “Diálogo judicial: intervenção jurídica no Projeto Minerário Volta Grande do Xingu” Mediação: Elis Araújo (International Rivers, Brasil) Participantes: Bia Albuquerque Tiradentes (Defensoria Pública do Estado do Pará, Brasil), Herena Maués (Ministério Público do Estado do Pará, Brasil), Verena Glass (Movimento Xingu Vivo para Sempre, Brasil) Elisângela Machado Côrtes (DPE, Brasil), Thais Santi (Ministério Público Federal, Brasil. Marcella Ribeiro, AIDA, Brasil) O evento emitirá certificado de 10 horas/aula para aqueles que atingirem 75% de frequência.  

Continuar Lendo »

Participe do Lançamento da nova Plataforma da Qualidade do Ar, realizada pelo IEMA

Live com representantes da OMS, poder público, organizações do terceiro setor debaterá o monitoramento da poluição do ar no Brasil Na próxima quinta-feira, dia 30 de setembro, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) lançará a nova Plataforma da Qualidade do Ar com novas formas de ver os dados do monitoramento da qualidade do ar no Brasil. O webinar de lançamento terá a participação especial de Priscila Bueno, Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS); Dr. José Leonidas Bellen de Lima, Procurador Regional da República; José Vitor de Resende Aguiar (Zé Vitor), Deputado Federal; Evangelina Vormittag, Instituto Saúde e Sustentabilidade (ISS)/ Coalizão Respirar; representante da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema); e David Tsai, Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). A abertura será feita por Marcel Martin, Instituto Clima e Sociedade (iCS) e André Luis Ferreira, Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). O lançamento acontecerá no perfil do IEMA no YouTube do IEMA. “O objetivo da Plataforma da Qualidade do Ar é dar apoio à gestão pública da qualidade do ar, gerar informação acessível e fomentar a ciência”, conta David Tsai, coordenador de projetos do IEMA. A poluição atmosférica traz grandes danos à saúde, causando o agravamento de doenças respiratórias, cardiovasculares e neurológicas. Também produz efeitos negativos aos ecossistemas, gerando prejuízos à agricultura e aos ambientes urbanos, podendo contribuir com a poluição das águas e do solo. O monitoramento da qualidade do ar é o primeiro passo da gestão do ar que respiramos. E, infelizmente, o país carece de uma rede básica de monitoramento e de um completo sistema de informação. No Brasil, os estados são responsáveis pelo monitoramento da qualidade do ar, mas, a maior parte deles apresenta dificuldades para gerar, analisar e publicar informações sobre a qualidade do ar. A Plataforma reúne e padroniza os dados de qualidade do ar gerados pelo poder público, sendo uma ferramenta de análise para facilitar a gestão da qualidade do ar pelas autoridades públicas e também leva informação à sociedade e à comunidade científica. Para isso, a equipe do IEMA dialoga com cada instituição gestora da qualidade do ar, firmando parcerias para o compartilhamento de dados, entre elas os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs), uma prefeitura e o Ministério do Meio Ambiente. Contribuem com a Plataforma da Qualidade do Ar: Distrito Federal, Estado da Bahia, Estado do Espírito Santo, Estado de Goiás, Estado de Minas Gerais, Estado do Paraná, Estado de São Paulo, Estado do Rio de Janeiro, Estado do Rio Grande do Sul, Prefeitura do Rio de Janeiro, Ministério do Meio Ambiente. Fonte: IEMA

Continuar Lendo »

Árvore ameaçada de extinção consegue refúgio em embaixada

Jatobá de seis metros de altura chega a porta de embaixada em mobilização contra o desmatamento e as queimadas no Brasil Por Sônia Guajajara* e Sérgio Guimarães** Enquanto o presidente Jair Bolsonaro discursava na ONU falando inverdades sobre meio ambiente no Brasil e outros temas, um Jatobá de seis metros de altura, espécie brasileira ameaçada de extinção, teve seu pedido de refúgio aceito terça-feira, 21 de setembro (Dia da Árvore) pela Embaixada da Noruega. A iniciativa do Jatobá, que contou com apoio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), do GT Infraestrutura e que teve a coordenação internacional dos assessores estratégicos Marcus Vinicius Ribeiro e Zachary Kuipers da 4H5H MEDIA, buscou chamar a atenção mundial para a destruição acelerada dos biomas brasileiros, em especial da Floresta Amazônica. Na porta da embaixada, lemos a carta com o pedido de socorro. Depois de várias horas de negociações, o apelo foi aceito e o Jatobá foi replantado no espaço da representação norueguesa. Trata-se de um acolhimento simbólico, mas importante por representar a luta de povos indígenas e ambientalistas, bem como o sentimento da grande maioria da população brasileira pela preservação da nossa floresta e seus povos. Segundo definição do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (ACNUR), refugiados são aqueles que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição, como também à grave e generalizada violação de direitos e conflitos. A escolha da Embaixada da Noruega para o pedido de refúgio é por ser esse o primeiro país a proibir o desmatamento. Esse inusitado pedido pode parecer estranho ao homem branco que vive apartado do mundo natural e se considera acima das árvores, mas a ancestralidade sempre ensinou que o sentido da vida é o coletivo e que nós e natureza formamos um todo coeso. Esse pedido é um clamor pela vida de todas as espécies ameaçadas por uma visão corrompida e ultrapassada de convívio com a natureza. As espécies de plantas e animais dos biomas brasileiros, nesta ação representadas pelo Jatobá, estão sob ameaça. Estudo recente publicado na revista científica Nature revela que o fogo na Amazônia, provocado pela ação humana, pode ter atingido 95,5% das espécies de plantas e animais vertebrados conhecidas da floresta tropical. O desmatamento fora de controle aproxima a maior floresta tropical do mundo do seu ponto de não retorno. Se o ritmo atual de devastação for mantido, este “ponto de não retorno” pode chegar nos próximos anos, como vem alertando diversos cientistas brasileiros e internacionais. O inesperado pedido de refúgio mostra a gravidade da situação de milhões de árvores e outras formas de vida que estão sendo exterminadas sem ter a quem recorrer no Brasil, onde autoridades responsáveis por sua proteção muitas vezes estão aliadas aos destruidores. Cabe a nós, cidadãos brasileiros, moradores das florestas, do campo e das cidades nos posicionar com firmeza em defesa dessa e de milhões de árvores em busca de uma solução; o que permitirá que nossas florestas, sua biodiversidade e seus habitantes possam viver em paz no Brasil, continuando a prestar seus relevantes serviços para nós brasileiros e para todo o planeta. A ação visa também retomar as “Cinco Medidas Emergenciais para Combater a Crise do Desmatamento na Amazônia”, proposta apresentada por mais de 60 organizações e coletivos da sociedade brasileira, que incluem, além da moratória do desmatamento, o endurecimento das penas aos crimes ambientais, inclusive o bloqueio de bens dos 100 maiores desmatadores da Amazônia; a retomada do Plano de Controle do Desmatamento da Amazônia que conseguiu reduzir significativamente a devastação ambiental na região, engavetado por Jair Bolsonaro. Também a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e a criação de 10 milhões de hectares em Unidades de Conservação; além da reestruturação do Ibama, ICMBio e Funai, fragilizados pelo atual governo. A íntegra do documento está publicada no site www.arvorerefugiada.com.br e chama para a assinatura de uma petição pelo fim do desmatamento. “Estamos sob ataque de pessoas e estruturas que deveriam nos proteger. Precisamos chamar a atenção para essa tragédia em curso e mobilizar além da sociedade brasileira, a comunidade internacional para reverter essa dramática situação”, disse o Jatobá ao pedir refúgio. Todo nosso apoio a ele e às milhões de arvores e outras formas de vida que estão sendo dizimadas desnecessariamente no Brasil. * Sônia Guajajara, Coordenadora Executiva da APIB – Lider indígena nacional, ativista, ambientalista e pré-candidata à Presidência da República. **Sérgio Guimarães, Secretário Executivo do GT Infraestrutura – Engenheiro, especialista em políticas ambientais e ambientalista. Foto: Sérgio Guimarães

Continuar Lendo »

Em ação inédita, árvore ameaçada de extinção consegue refúgio na Embaixada da Noruega

Jatobá de seis metros de altura foi levado à porta da embaixada em mobilização contra a aceleração do desmatamento Brasília, 21 de setembro de 2021 – Um jatobá de seis metros de altura, espécie ameaçada de extinção, teve seu pedido de refúgio aceito na manhã desta terça-feira na Embaixada da Noruega. A iniciativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e do Grupo de Trabalho Infraestrutura e Justiça Social buscava chamar a atenção pública mundial para a destruição em curso acelerado dos biomas brasileiros, em especial da Floresta Amazônica. A árvore foi levada à entrada da embaixada, onde Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib, leu uma carta com um pedido de socorro. O apelo foi aceito e o jatobá foi transportado para dentro do espaço da representação norueguesa. Trata-se de um acolhimento simbólico para representar a luta de ambientalistas pela preservação da nossa floresta. Segundo definição do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (ACNUR), refugiados são aqueles que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição, como também devido à grave e generalizada violação de direitos e conflitos. A escolha pelo pedido de refúgio na Embaixada da Noruega é por ser o primeiro país a proibir o desmatamento. “Esse pedido de refúgio pode parecer estranho ao homem branco que vive apartado do mundo natural e se considera acima das árvores, mas a ancestralidade sempre ensinou que o sentido da vida é o coletivo. Esse pedido é um clamor pela vida de todas as espécies ameaçadas por uma visão corrompida e ultrapassada de convívio com a natureza”, alertou Sonia Guajajara. As espécies de plantas e animais dos biomas brasileiros, nesta ação representadas por um jatobá, estão sob ameaça. Estudo recente publicado na revista científica Nature revela que o fogo na Amazônia, provocado pela ação humana, pode ter atingido 95,5% das espécies de plantas e animais vertebrados conhecidas da floresta tropical. O desmatamento fora de controle aproxima a maior floresta tropical do mundo do seu ponto de não retorno. Se o ritmo atual de devastação for mantido (ou aumentar), este “ponto de não retorno” pode chegar já em algum momento entre 15 a 30 anos, como vem alertando o climatologista brasileiro Carlos Nobre. “Esse inusitado pedido de refúgio mostra a gravidade da situação de milhões de árvores e outras formas de vida que estão sendo exterminadas sem ter a quem recorrer no Brasil, onde autoridades responsáveis por sua proteção muitas vezes estão aliadas aos destruidores. Cabe a nós, cidadãos, nos posicionarmos em defesa dessa e de milhões de árvores em busca de uma solução, que começa pela implementação da ‘5 medidas emergenciais de combate ao desmatamento’; o que permitirá que milhões de árvores, nossas florestas e seus habitantes possam viver em paz no Brasil, prestando seus relevantes serviços climáticos para nós e todo o planeta”, afirmou Sérgio Guimarães, Secretário Executivo do GT Infraestrutura. A ação visa também justamente retomar as “Cinco Medidas Emergenciais para Combater a Crise do Desmatamento na Amazônia”, propostas por mais de 60 organizações e coletivos da sociedade civil brasileira. Elas incluem, além da moratória ao desmate, o endurecimento das penas aos crimes ambientais, inclusive o bloqueio de bens dos 100 maiores desmatadores da Amazônia; a retomada imediata do PPCDAm — o plano de controle do desmatamento que vigorou por cinco mandatos presidenciais até ser engavetado por Jair Bolsonaro; a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e criação de 10 milhões de hectares em unidades de conservação; e a reestruturação do Ibama, do ICMBio e da Funai, desarticulados e aparelhados pelo atual governo. A íntegra do documento está publicada no site www.arvorerefugiada.com.br e chama para a assinatura de uma petição pelo fim do desmatamento. A campanha tem ainda o apoio da Climate Reality Brasil, organização com o objetivo de informar a sociedade sobre os efeitos das mudanças climáticas no planeta, e da Amazon Watch, organização sediada na Califórnia que trabalha há 25 anos junto a povos indígenas no Brasil, Peru e Equador na proteção da Amazônia. “Nosso meio ambiente está sob ataque de pessoas e estruturas que deveriam protegê-lo. Precisamos chamar a atenção para essa tragédia em curso, e mobilizar muito além da comunidade internacional para reverter esse cenário”, disse Renata Moraes, gerente do Climate Reality Brasil. Conheça mais no site www.arvorerefugiada.com.br Imagens: Estevão Ciavatta

Continuar Lendo »

Investir em termelétricas pode agravar a crise hídrica e ocasionar mais impactos ambientais, alerta nota técnica do IEMA

Documento avalia a atual crise hídrica, o planejamento energético e suas consequências ao meio ambiente O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) lança a nota técnica “Crise hídrica, termelétricas e renováveis: Considerações sobre o planejamento energético e seus impactos ambientais e climáticos”. Atualmente, a principal medida adotada no Brasil para evitar um apagão energético foi acionar as termelétricas fósseis e, além disso, o uso das termelétricas em tempo integral tem sido implementado. Como consequência, o documento alerta que deve-se esperar um aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor elétrico, impactos ambientais na qualidade do ar, limitações para a ampliação das demais fontes renováveis e um potencial agravamento da crise hídrica no futuro. Leia a nota técnica na íntegra. “Para evitar quadros futuros de risco de abastecimento, indica-se que o planejamento reveja os critérios para a contratação de energia no médio e longo prazo, evitando o cancelamento de leilões do ambiente regulado, como foi o caso em 2020, ou a baixa contratação registrada nos últimos leilões de energia nova e existente”, afirma Ricardo Baitelo, coordenador de projetos no Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e o autor principal da nota. No caso atual, o planejamento de longo prazo parece ter sido desconsiderado quando maximizar o acionamento das termelétricas é a última solução para reduzir o risco de um novo racionamento, um ciclo que gera mais GEE e pode piorar as secas. O Brasil tem optado por avançar com a operação e a instalação das termelétricas fósseis, que usam carvão e derivados do petróleo para gerar energia. Os últimos leilões de energia elétrica existente deste ano, permitiram, pela primeira vez, o funcionamento em tempo integral das termelétricas contratadas. Além disso, a Lei 14.182/2021, que trata da privatização da Eletrobras, determina a inserção de 8 GW de termelétricas a gás natural operando em tempo integral – hoje, a capacidade instalada de termelétricas a gás é de 15,7 GW. Essa inserção de 8 GW de usinas termelétricas acumulará em 15 anos de operação a emissão de 260,3 MtCO₂e, mais do que as emissões de todo o setor de transportes em 2019. Em relação à demanda por água, 23 termelétricas cadastradas nos leilões de energia existente propõem a utilização de água doce em seus sistemas de resfriamento, sendo que nove delas estão em bacias com balanço hídrico quantitativo preocupante, crítico ou muito crítico. E, sobre a qualidade do ar, das 57 usinas licenciadas participantes dos leilões, apenas 18 estão localizadas em municípios equipados com pelo menos uma estação de monitoramento da qualidade do ar. Esse instrumento é importante para saber a concentração de poluentes no ar respirado pela população local. Para piorar, esse investimento em termelétricas pode gerar um ciclo de mais secas. Os efeitos das mudanças climáticas já influenciam a variação da hidrologia brasileira, responsável por 65,2% da geração de eletricidade em 2020. Segundo o boletim divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste fecharam agosto com pouco mais de 20% de sua capacidade de armazenamento. Esse patamar registrado segue o cenário mais pessimista projetado pelo órgão no estudo prospectivo para o período seco, que ocorre entre junho e novembro. Ainda que a matriz elétrica tenha reduzido a dependência em relação à fonte hidrelétrica nos últimos 20 anos, em parte graças ao crescimento das fontes eólica e solar – aumento de quase 50% aconteceu durante a pandemia, enquanto a maior parte dos demais setores econômicos e industriais encolheu – o processo de diversificação da matriz deveria mantenha o curso, priorizando energias renováveis variáveis. “A segurança da oferta de eletricidade pode ser garantida pela contratação de renováveis flexíveis e termelétricas a biomassa. O desenvolvimento das regras para a regulação de sistemas de armazenamento de eletricidade no sistema elétrico permitirá sua inserção ao longo desta década, apoiando a descarbonização da matriz”, finaliza Baitelo. Fonte: IEMA Foto: Imagem de Pixabay

Continuar Lendo »

Plano de logística pressiona ainda mais a Amazônia, mostra apresentação do IEMA

André Ferreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Bruno Martinello Lima, do Tribunal de Contas da União (TCU) e Edinho Bez, diretor de relações institucionais da Frente Parlamentar de Logística, mediados por Sérgio Guimarães, do GT Infraestrutura, e em evento promovido pelo grupo de trabalho da sociedade civil debateram o Plano Nacional de Logística – PNL 2035. O evento online aconteceu na quarta-feira (15) com o objetivo de discutir a proposta e refletir sobre como ela se encaixa numa estratégia mais adequada para que a logística nacional melhor atenda ao interesse da sociedade. Veja o evento na íntegra aqui. “O plano em discussão pública não identifica quais serão os problemas de logística do futuro”, André Ferreira, diretor-presidente do IEMA, alertou durante o evento. No início deste ano, a Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL) e o Ministério da Infraestrutura (MInfra) realizaram a consulta pública do PNL 2035. “O Tribunal de Contas, inclusive, está realizando uma auditoria operacional do PNL 2035. O que mostra o quanto há uma preocupação por todos os atores, inclusive pelo TCU, e a busca pelo aperfeiçoamento desse plano. É o que todos nós queremos com escuta ativa, o que traz mais robustez ao processo decisório”, contou Bruno Martinello Lima. O PNL 2035 seria o objeto central do planejamento de transporte de cargas e se configura como um dos instrumentos da Política Nacional de Transportes, ou seja, o documento é estratégico para definir o futuro da infraestrutura voltada à circulação de mercadorias no país. Porém, falta análise de alternativas para o transporte de cargas no Brasil no plano apresentado. Antes de tudo, vale ressaltar que o transporte de cargas no país merece atenção especial com relação ao meio ambiente e às fragilidades sociais por diversos motivos. Alguns deles: as exportações dependem do transporte interno para serem enviadas para demais países e populações locais podem ser afetadas por ele, as economias locais podem ser incentivadas – ou não – de acordo com os planos apresentados, novas obras podem gerar mais desmatamentos ou conflitos por terras e nem sempre populações locais participam do processo decisório da instalação de novas obras para discutir os impactos em seus modos de vida. Fragilidades do PNL 2035 Durante o encontro, André Ferreira apresentou diversas fragilidades do PNL 2035 e também oportunidades de melhorias que poderiam ser agregadas pelo governo federal, para que ele sirva à população em geral. O PNL 2035 considera, além dos projetos contratados “sem novos investimentos”, projetos que foram apresentados e ainda estão em fase de apreciação. O plano inclui até projetos sem licenciamento ambiental. Outro ponto é que não há uma identificação objetiva dos pontos críticos da infraestrutura de transportes – como rodovias, ferrovias e portos – que deverão estar saturados em função do crescimento projetado na circulação de mercadorias. “Não conseguimos entender os critérios adotados para optar enfrentar um problema e não outro”, ressalta Ferreira. Por exemplo, o PNL 2035 prioriza granéis sólidos – como soja, milho e minério de ferro – em detrimento de outros produtos, mas não apresenta estudo do porquê dessa ação. “Parece que só se dá por pressão política e empresarial, se afastando de boas práticas. As demandas do mercado são legítimas, a dúvida é como isso passa por fundamentação técnica”, afirma Ferreira. Soja, milho e companhia Os estados de Mato Grosso e Goiás, de acordo com projeções, serão responsáveis por metade da ampliação da circulação de granel sólido no país. Desse modo, o escoamento da mercadoria do Centro-Oeste, sem dúvida, é algo a ser avaliado. Para isso, é necessário explicitar quais as alternativas para resolver o problema. “Se escoar os grãos do Centro-Oeste é um problema colocado no Plano, é preciso discutir as alternativas de escoamento da mercadoria para os portos de exportação do futuro”, diz Ferreira. Isto é, é necessário apresentar uma comparação das alternativas existentes para apontar qual alternativa e sob quais aspectos é mais adequada que outra. “Isso não é tratado no Plano de Logística. A rigor não é feita uma análise de alternativa”, completa. O gráfico da esquerda mostra por onde, atualmente, os grãos são mais escoados: Santos (SP) e São Luís (MA). O cenário previsto pelo PNL 2035, à direita, reduz a carga exportada pelos portos de Santos e de São Luís, mesmo com a ampliação da rodovia e com o aumento da produção e da exportação de granéis sólidos. Há também uma redução da saída rodoviária que leva ao porto de Belém (PA) e via BR-364. O escoamento de soja passaria a se concentrar na Bacia do Rio Tocantins, via Ferrogrão, e através das ferrovias FICO e FIOL, saindo pelo porto de Ilhéus (BA). Dessa maneira, futuramente a carga estaria saindo dos três principais eixos existentes para ser transportada em outros em construção. “A pergunta que fica é: o PNL 2035 não precisaria ter cenários concorrentes, alternativos?”, questiona Ferreira. Isso porque novas obras e acréscimo na passagem de cargas aumentam a pressão por locais já socioambientalmente sensíveis. Deveria-se estudar novos cenários de acordo com diretrizes ambientais, sociais e custos econômicos. “Não existe cenário comparativo, na verdade, está em disputa a carga do Centro-Oeste por três ferrovias e Ilhéus”, afirma o diretor-presidente do IEMA. “Um local tão sensível, como a Amazônia, parece ser o suficiente importante para justificar o porquê não temos análises de outras saidas”, diz. Recomendações ao PNL 2035 Ao final da fala, André Ferreira apresentou recomendações para o aperfeiçoamento da política e planejamento do PNL 2035: a EPE tem conhecimento técnico, dados e ferramentas para produzir e testar cenários de infraestrutura concorrentes previamente à definição de portfólios de projetos; elaborar avaliação ambiental estratégica; institucionalizar o processo decisório, garantindo a vinculação técnica entre todas as suas etapas e fases de forma a manter a aderência das ações às políticas públicas e adoção de boas práticas técnicas; garantir para cada etapa do processo decisório, ampla e adequada participação da sociedade. Consultas e discussões com a sociedade, principalmente com as comunidades afetadas, melhoraram os projetos e diminuem o tempo de implementação de novas propostas.

Continuar Lendo »

Organizações manifestam preocupação com “pérola da Amazônia” no Pará

Em carta ao governador do Pará, coletivos alertam para necessidade de medidas de proteção mais abrangentes em área de floresta, na bacia do Tapajós Organizações e coletivos sociais do campo socioambiental, entre elas o GT Infraestrutura, enviaram, na quinta-feira, (9/9) uma carta aberta (leia aqui) ao Governador do Pará, Helder Barbalho, alertando-o sobre o risco de medidas inapropriadas para a conservação da floresta no entorno do rio Gleba São Benedito e de seu afluente Azul, no Pará. A região é uma das pérolas da Amazônia, com espécies endêmicas de primatas, aves e peixes. O ecoturismo é uma atividade importante na região, com pelo menos seis pequenos hotéis de selva. Parte da Bacia do Tapajós, na fronteira com o Mato Grosso, essa riqueza natural é ameaçada pelo avanço desenfreado da agropecuária e por planos de construção de pequenas centrais hidrelétricas – PCHs. Desde o ano passado, o Governador tem expressado interesse de conservar a região e o Ideflor-Bio (instituição estadual responsável pelo processo) deu início aos estudos para criação de uma Unidade de Conservação. A audiência pública está agendada para 15 de setembro, mas os estudos técnicos disponibilizados indicam a recriação de uma reserva de pesca ao longo do Rio, sendo essa proposta insuficiente na cobertura especial e inadequada na categoria. Reservas de pesca não são reconhecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação e nem pelo Sistema Estadual. Além disso, já existe uma reserva deste tipo criada no mesmo local, por decisão do Conselho Estadual do Meio Ambiente (COEMA) desde 2001. As organizações entendem que há disputas dentro do governo sobre como lidar com a agenda ambiental. Ao se posicionarem publicamente, esperam que o Governador perceba que para a maioria dos brasileiros, conservar a Amazônia de maneira efetiva é uma prioridade. Fonte: ISA Foto: Rio São Benedito, na Gleba São Benedito, no Pará. | Equipe (DGBIO)

Continuar Lendo »

Qual será o sanduíche bom para o clima?

A produção de hambúrguer sintético é um dos negócios promissores com a demanda por cuidados com as pessoas e com o meio ambiente. O que mais esperar dessas tendências? Nos últimos anos, muito tem se falado em uma nova economia, que seja mais sustentável, mudando a forma como nos relacionamos com os recursos naturais e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, que ninguém pode mais negar. No entanto, muita gente ainda é resistente ao assunto, associando-o a algum tipo de retrocesso ou paralisação. Não é nada disso. O que precisamos é de uma transformação, com empreendimentos que tenham o olho no futuro e não no retrovisor. Os megaprojetos já estão perdendo espaço para outros menores e baseados em conhecimentos mais sofisticados. Essa é uma tendência porque os negócios precisam mudar para estimular mudanças de atividades e comportamentos que sejam indutores da redução de gases do efeito estufa e nos ajudem a cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e endossadas pelas principais potências do mundo. “Os próprios objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS) convergem para uma economia que tenha como base os serviços para a sociedade de forma a não destruir a natureza”, afirma Ricardo Abramovay, que é economista, professor e especialista em economia verde, em mais um episódio do podcast Infraestrutura Sustentável. Nessa nova economia, boa para o clima, há espaço para que muitos negócios prosperem, mas eles precisam também estar alinhados com essa mentalidade do cuidado — com as pessoas e com o meio ambiente, ou seja, na luta contra as desigualdades e contra as mudanças climáticas. “Essa é a mensagem central: desenvolvimento sustentável não é só meio ambiente, é favorecer a emergência de uma vida social em que as pessoas possam florescer e exercer as suas capacidades”, afirma Abramovay. Nesse sentido, segundo ele, a infraestrutura se torna um meio para chegar a esses objetivos e os negócios que forem por essa linha têm tudo para se dar bem. A área da saúde é uma na qual há muito espaço para investimento, especialmente nos setores de vacinas, equipamentos e, sobretudo, cuidado com as pessoas. Abramovay lembra que a pandemia deixou muito claro que não podemos depender de apenas alguns países, como Índia e China, para a produção de insumos, mesmo os mais elementares, pois isso deixou muitos países desabastecidos, justamente quando mais precisavam. Mobilidade é outra área promissora. As pessoas vão precisar se locomover de outra forma, dependendo menos de veículos que emitem gases do efeito estufa. Isso já está dando lugar a novos negócios, tanto aqueles que usam tecnologias digitais, quanto os que investem em fontes renováveis de combustíveis. Naturalmente, a área de cuidados com a natureza é prioritária para quem pensa em novos negócios. Investir em energias renováveis, por exemplo, é não apenas uma forma de diminuir os efeitos das mudanças climáticas, mas também uma área que têm potencial de gerar muitos empregos, inclusive para postos de trabalho qualificados. Negócios especializados em regeneração florestal, recuperação de áreas degradadas também estão entre os que Abramovay acredita que têm muita chance de prosperar. Ele também cita que os imóveis, domésticos e comerciais, precisarão passar por adaptações para atender às mudanças no comportamento das pessoas. “As pessoas vão precisar reformar suas casas e instalar novos equipamentos de aquecimento, senão a conta não vai fechar. Isso vai dar lugar a negócios, inclusive pequenos”, explica o professor, lembrando que na Grã Bretanha, por exemplo, são 30 milhões de domicílios que vão ser recompostos para atender às metas ambiciosas do país. Os negócios ligados à alimentação também devem ganhar cada vez mais espaço. Abramovay afirma que a contestação ao consumo de carne e à crueldade animal vinculada a esse hábito é crescente. Essa nova exigência dos consumidores têm estimulado, por exemplo, a produção de carnes de laboratório. Há consultorias que estimam que, em 30 anos, 40% do consumo atual de carne vai ser direcionado para carnes vegetais ou essas elaboradas em laboratório. São negócios que estão crescendo com uma velocidade impressionante. É possível esperar uma pressão cada vez maior por redução nas emissões de metano, o que deve impactar a produção bovina, e estimular substitutos, inclusive aves e suínos. E esses são só alguns exemplos que provam que a economia boa para o clima não tem nada de paralisada, é exatamente o contrário. “O que está acontecendo é uma transformação profunda que será mais promissora quanto mais ela obedecer às necessidades da luta contra a crise climática”, conclui Abramovay. Os desafios são imensos, especialmente no Brasil, onde muita gente ainda tem receio de investir nesse tipo de negócio e há projetos novos que não só não estão indo no caminho certo como andam para trás, estimulando, por exemplo, o desmatamento, questão que não deveria nem mais estar sendo discutida, já que todo mundo que está minimamente atento sabe do potencial da floresta em pé. Investidores e empreendedores que pensam no longo prazo não podem mais ignorar que nada mais será como antes. Ainda bem. Foto:  Ivam Grambek/Flickr Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Continuar Lendo »

Plano Nacional de Logística 2035 precisa destacar cenários alternativos

Décimo encontro do Ciclo WebGTInfra discutiu riscos e oportunidades de plano, que é estratégico para definir os rumos da logística no país “Decisões baseadas em análise de riscos envolvem uma dimensão moral quando elas sujeitam os outros a riscos que eles não consentem, sem ter levado em conta outro leque de alternativas”. A afirmação é do diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), André Ferreira, e diz respeito à sua impressão sobre o Plano Nacional de Logística (PNL) 2035, objeto central do planejamento estratégico de transportes apresentado pela Empresa de Planejamento e Logística e do Ministério da Infraestrutura. O assunto foi tema do décimo encontro do Ciclo Web GT Infra, transmitido pelo Youtube do GT Infra nesta quarta-feira (15/9). André Ferreira, um dos convidados do debate, destacou que o PNL precisa ser útil na elaboração de uma estratégia mais adequada para que a logística nacional atenda ao interesse público e que, para isso, é de fundamental importância discutir alternativas possíveis para resolver os problemas considerados prioritários pelo Plano. Uma de suas principais críticas é a de que o PNL deveria explicitar melhor quais critérios estão sendo utilizados para dizer que uma alternativa é melhor que a outra. “A falta desse tipo de explicação é uma das deficiências do Plano e nos deixa alguns questionamentos”, criticou. Segundo André, da forma como está, o PNL passa a impressão de que a etapa de planejamento no processo decisório de transportes — e isso não é de agora — não está alinhada às boas práticas orçamentárias e parece estar apenas em função das pressões política e empresarial. Ele explicou que essas são partes legítimas do processo, mas não podem ser os únicos critérios. Para aprimorar o Plano, o especialista deu algumas sugestões, entre elas: testar cenários de infraestrutura concorrentes, elaborar uma avaliação ambiental estratégica e institucionalizar o processo decisório. “Além de o país gastar pouco em infraestrutura, ele investe mal”. Esse é o cenário base que precisamos levar em conta para discutir o tema, segundo o segundo convidado do evento, Bruno Martinello Lima, que é Secretário de Fiscalização de Infraestrutura Portuária e Ferroviária do Tribunal de Contas da União (TCU). Ele ilustrou, com exemplos de alguns casos, a importância de um planejamento robusto para a logística, destacando a importância do PNL. Bruno também falou sobre algumas das percepções do TCU que, enquanto órgão de controle, está fazendo uma auditoria para analisar o Plano nos quesitos governança, transparência e eficiência. “Algum dos riscos que nós vislumbramos é de o PNL não se tornar um plano de Estado”, observou, lembrando que essa precisa ser uma política permanente para funcionar no médio e longo prazo. “A gente espera que o Plano evolua, mas isso acontece a partir de uma avaliação constante de seu custo-benefício”,  ressaltou, informando que os resultados completos serão divulgados assim que a auditoria for concluída. “Realmente é fundamental, principalmente num país de recursos escassos, que eles sejam bem aplicados”, completou o Secretário Executivo do GT Infraestrutura, Sérgio Guimarães, que mediou o webinário. O último convidado a falar foi o deputado Edinho Bez, diretor de Relações Institucionais da Frente Parlamentar de Logística e Infraestrutura (FRENLOGI). Ele representou o presidente da Frente, Senador Wellington Fagundes, que iria participar do evento, mas não pode comparecer. Edinho destacou que esse é um debate que interessa muito à pauta de logística no âmbito nacional. “Fazemos votos que este plano venha atender os anseios das necessidades do Brasil, pois todo país que se preza tem plano nacional de logística”, destacou. Se o Brasil pretende seguir o caminho de construção de uma infraestrutura logística que seja capaz de, simultaneamente, promover desenvolvimento socioeconômico e evitar impactos em comunidades e territórios vulneráveis, o PNL deveria refletir essa construção. Trilhar esse caminho exige uma mudança de prática e um esforço consideráveis, tendo em vista que o histórico de planejamento logístico traz consigo distorções de atendimento a interesses privados e pouca transparência nas várias etapas do processo decisório. O objetivo desse debate foi dar início a esse processo tão desafiador. O debate ficou gravado no Youtube e quem não viu pode assistir aqui. Imagem: divulgação/ Youtube  

Continuar Lendo »

No ar: Ricardo Abramovay fala sobre infraestrutura do futuro

Parte dois da conversa com o professor já está disponível no Spotify e site do GT Infra “A era do concreto está chegando ao fim. Vem aí a infraestrutura do cuidado”, afirma o secretário executivo do GT Infraestrutura, Sérgio Guimarães, na abertura do episódio 17 do podcast Infraestrutura Sustentável, que convida novamente Ricardo Abramovay, Professor Sênior do Programa de Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) e autor de vários livros sobre economia verde. Esse é o segundo episódio com ele porque a primeira conversa foi tão boa que pediu uma nova. O assunto é a infraestrutura do futuro, ou seja, os novos conceitos de infraestrutura que já estão sendo desenhados e começam a ser implementados, como é o caso do Plano Biden nos Estados Unidos. Nessa nova infraestrutura, os mega projetos perderão espaços para outros, menores, dispersos e baseados em conhecimentos sofisticados, aí incluindo os serviços à sociedade. O episódio já está disponível no Spotify e no site do GT Infra.

Continuar Lendo »

Ciclo WebGTInfra: riscos e oportunidades do Plano Nacional de Logística 2035 são tema de encontro

Evento será realizado no dia 15/9, às 16h, com transmissão pelo Youtube Entre março e maio de 2021, a Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL) e o Ministério da Infraestrutura (MInfra) realizaram a consulta pública do Plano Nacional de Logística – PNL 2035. O entendimento atual do MInfra é que o PNL é o objeto central do planejamento estratégico de transportes e se configura como um dos instrumentos da Política Nacional de Transportes, o que significa que esse documento é estratégico para definir o futuro da infraestrutura voltada à circulação de mercadorias no país. Se o Brasil pretende seguir o caminho de construção de uma infraestrutura logística que seja capaz de, simultaneamente, promover desenvolvimento socioeconômico e evitar impactos em comunidades e territórios vulneráveis, o PNL deveria refletir essa construção. Trilhar esse caminho exige uma mudança de prática e um esforço consideráveis, tendo em vista que o histórico de planejamento logístico traz consigo distorções de atendimento a interesses privados e pouca transparência nas várias etapas do processo decisório. Ciente da importância do tema, o GT Infraestrutura realiza, na próxima quarta-feira (15/9), às 16h, o webinário: “PNL 2035 – Riscos e Oportunidades”. O evento faz parte do Ciclo WebGTInfra e vai apresentar, de forma mais acessível e com apoio de especialistas, alguns aspectos do Plano que merecem ser debatidos pela sociedade. Além disso, refletiremos sobre como esse relevante instrumento poderia ser útil na elaboração de uma estratégia mais adequada para que a logística nacional melhor atenda ao interesse público. A transmissão será pelo Youtube do GT Infra e as inscrições estão abertas no link.

Continuar Lendo »

Uma gota no Pantanal

Uma viagem pela Transpantaneira nesta temporada de seca faz o visitante se encontrar com um chocante futuro. Andreia Fanzeres Conheci a Transpantaneira na seca de 2007 para acompanhar analistas do Ibama e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA) no censo das aves. A escolha da estrada parque não foi um acaso. Os 140 quilômetros que cortam o Pantanal mato-grossense eram um dos principais locais de avistamento de fauna de todo o bioma. Seria praticamente impensável cruzar essa estrada sem se encontrar com o que de mais característico há no Pantanal. Mas, depois dos incêndios que devastaram a região em 2020 e da ausência de chuvas na região, a paisagem ainda parece agonizar. Árvores enegrecidas, redemoinhos de ar quente levantando a poeira nas fazendas, corixos secos, solo rachado e exposto no lugar das lagoas chocam o visitante que um dia viu o Pantanal transbordando de vida. Sem água, a família de capivaras se comportava como retirante na aridez deste novo Pantanal. E, em vez dos jacarés, da revoada de tuiuiús e do colorido das suas aves no céu, foi o gado que posou para foto. A água, elemento que determina o pulso da vida na maior planície inundada do mundo, agora falta. Não apenas para os bichos, mas também para o pantaneiro. Chega barrenta, manchando pratos e corpos de quem luta, sob o sol escaldante, para minimizar os efeitos da tragédia dos incêndios este ano. Na casa de uma moradora da Transpantaneira, as rãs escolheram o vaso sanitário para viver. “É que aí tem água sempre”, explicou-me. Ela não se conformava em lembrar que desde o ano passado o Pantanal não encheu mais e agora é possível atravessar a pé rios como o majestoso Paraguai. Nesse comecinho de setembro, a nebulosidade e o vento espalhavam os tímidos pingos de chuva, que mal chegavam a fixar a poeira no chão. Cada gota passou a ter um valor ainda maior, desde então. Com o preço do combustível e da energia elétrica nas alturas, garantir água tratada e refrigerada nesses rincões é prioridade, questão de vida e também de morte. Como levantou de forma inédita o Mapbiomas, o Brasil perdeu mais de 3,1 milhões de hectares de superfície de água nos últimos 30 anos. Isso representa uma redução de 15,7% com relação aos corpos hídricos existentes no país em 1991. No Pantanal, esse decréscimo foi particularmente agudo, na ordem de impressionantes 68% entre 1985 e 2020. Tamanha diferença se expressa, é claro, naquilo que vemos como paisagem, mas que costuma ficar na memória dos mais antigos, não sendo tão perceptível de um ano para outro. Os alertas de que o Pantanal estava secando a cada nova barragem autorizada na Bacia do Alto Paraguai, ou da farra de outorgas para uso da água no bioma, sem avaliações sobre impactos cumulativos e efeitos sinérgicos dessas intervenções, anteviam um cenário em que tantas alterações na delicada dinâmica hídrica no Pantanal poderiam ter consequências gravíssimas para as futuras gerações. O criminoso desleixo na implementação das políticas ambientais pelo governo federal desde 2019, somado a condições climáticas inéditas, fez 2020 mudar para sempre o que conhecíamos como Pantanal. A escalada do desmatamento e condições climáticas severas fizeram de 2020 um marco para o Pantanal. Especialistas ouvidos pelo Observatório do Clima apontaram, por exemplo, que o nível do rio Paraguai tinha sido o mais baixo desde 1971 e choveu em média entre 50% e 60% menos do que o normal, o que tornou o combate aos incêndios criminosos uma missão sem precedentes na história do Pantanal. Hoje, incêndios ativos voltam a torrar o que já queimou ano passado. Agora, os animais que disputam nesgas de água vistas das pontes secas da Transpantaneira são um presente cada vez mais raro a quem tem a chance de testemunhar o que será desse futuro que já chegou. Imagens: Andreia Fanzeres

Continuar Lendo »

Como será a nova economia boa para o clima?

A transformação radical na forma como produzimos bens e serviços também oferece oportunidade de geração de renda e criação de empregos “A partir de amanhã ninguém usa carro”. Até hoje não tivemos nenhum governo que dissesse algo assim. Mas, com as restrições impostas pela pandemia, entre abril e junho de 2020, as emissões globais caíram pela primeira vez nas últimas décadas. A ameaça do vírus alterou os modos de vida das pessoas em todo o mundo. Está na hora de fazermos algo parecido com relação à crise climática. O exemplo do carro pode parecer um exagero, mas o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), deu um alerta vermelho para toda a humanidade: temos muito o que fazer e pouco tempo para agir. A crise climática está se acentuando e os eventos extremos vão se tornar cada vez mais frequentes se não diminuirmos nossas emissões agora. O raciocínio do professor da Universidade de São Paulo (USP) e autor de vários livros sobre economia verde, Ricardo Abramovay, é de que a nossa economia precisa passar por mudanças drásticas. Ele explica que o modelo atual de produção não só é destrutivo para a natureza, como não satisfaz as necessidades básicas de parte importante da população mundial, que ainda vive com fome, sem saneamento e acesso à saúde e à educação. Ao pensarmos sobre isso, o que nos vem à mente é que precisamos produzir mais, para gerar mais recursos e empregos que ajudem a melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. “Mas o jeito que a humanidade sabe produzir até agora é emitindo gases do efeito estufa”, lembra o pesquisador. Para se ter uma ideia do tamanho da encrenca, segundo o professor, há 30 anos atrás, a matriz energética mundial dependia em 86% de combustíveis fósseis. De lá para cá, houve uma enorme mobilização governamental, científica e até no meio empresarial e, mesmo assim, hoje a nossa dependência dessa fonte de energia ainda é de cerca de 80%. “Em 30 anos, diminuímos 6%. Agora, até 2030, temos que fazer com que esse número caia pela metade, ou seja, para uns 40%. É um desafio extraordinariamente importante e difícil de ser alcançado, porque exige mudar a matriz energética global”, afirma Abramovay e ressalta que, apesar de as fontes renováveis estarem em ascensão em todo o mundo, ainda somos dependentes de carvão e as empresas petrolíferas continuam investindo nessa fonte numa quantidade superior à necessária para a transição que precisamos fazer. “Do ponto de vista das empresas produtoras de combustíveis fósseis, é como se a crise climática ou não existisse ou fosse ser enfrentada por meio de tecnologias que não estão prontas, como a captação de carbono, que ainda é cara e difícil”, afirma Abramovay. Isso precisa parar. Como? Olhando para as oportunidades. Quais são elas? Para o professor, que falou sobre o assunto no novo episódio do podcast Infraestrutura Sustentável, elas estão no fato de que a Europa Ocidental, os Estados Unidos, a China, a Índia, o Japão, todos os jogadores mundiais que contam nessa história, estarem “fazendo um imenso esforço de pesquisa científica e tecnológica para chegar à soluções capazes de reduzir as emissões de gases do efeito estufa.” Ele ressalta que a precificação do carbono, cobrando uma espécie de imposto de quem emite, ainda está dando os primeiros passos, mas deve ser uma realidade num futuro não muito distante. E que, além disso, fazer essa conversão da economia global em direção à redução de gases do efeito estufa também é oportunidade de geração de renda e criação de empregos. “É uma reviravolta na economia.” Desde o fim da Segunda Guerra Mundial nenhum país fixou para sua economia um objetivo diferente do de fazer com que a economia crescesse. Abramovay explica que a política macroeconômica sempre foi a estabilização, porque ela ajudava a chegar a esse objetivo. No entanto, com a crise climática, isso mudou. Nos Estados Unidos, por exemplo, desde a vitória de Joe Biden, a economia está planejada para o combate às mudanças climáticas. “Pela primeira vez na história, temos um tema referente à relação entre sociedade e natureza no âmago das políticas e da gestão econômica. Esse é um fato importante de esperança porque alguma coisa interessante vai sair daí no plano global”, afirma. “Todas as autoridades das organizações multilaterais estão gritando forte que o que a gente está fazendo não está à altura dos desafios que estão sendo colocados”, completa. No entanto, Abramovay lembra que não se muda um modelo econômico por decreto. “Estamos lidando com uma situação de alta complexidade em que decisões governamentais e de direções empresariais são fundamentais, mas se inserem num contexto que vai muito além da capacidade de elas provocarem por si só as transformações necessárias”, explica. Para ele, todos precisamos nos perguntar o que queremos da nossa vida econômica. E a resposta não pode mais ser o óbvio crescimento. “Esse raciocínio não pode mais ser desse jeito. A gente precisa saber para onde a economia tem que crescer e que meios ela tem que usar.” O professor ressalta ainda que, não poderemos continuar consumindo como sempre, mesmo que a tecnologia nos ajude a reduzir as emissões. Nesse sentido, a infraestrutura também precisa mudar, passando a ser pensada a partir dos serviços que gera. Abramovay vai lançar, em breve, um trabalho sobre esse assunto e adianta que essa é outra área que está em transformação. Ele ressalta dois aspectos: o primeiro é que atores importantes, como o Banco Mundial, o G-20 e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já estão falando com frequência sobre soluções baseadas na natureza; a segunda é que ele chama de “o fim da era do concreto”. Nesse cenário, o foco não é mais só construir, mas “usar de maneira inteligente a natureza para poder, por meio desse uso, lançar as bases permanentes para a satisfação das necessidades humanas.” Os mega projetos devem perder espaço. “O que mais precisamos é de projetos dispersos, localizados, em diferentes áreas, mas que precisam ser apoiados

Continuar Lendo »

Organizações da sociedade civil participaram de workshop sobre o Pacto de Letícia e outras iniciativas financeiras

No último dia 26 de agosto foi realizada um workshop da Sociedade Civil “O Pacto de Letícia e iniciativas financeiras na Bacia Amazônica”, que foi co-organizada pelo GT Infraestrutura, juntamente com as seguintes organizações: Direito, Ambiente e Recursos Naturais (DAR), Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), o Coordenador Regional dos Povos Indígenas em San Lorenzo (CORPI SL) e International Rivers (IR). O evento contou ainda com o apoio da Coalizão Regional pela Transparência e Participação, Conectas Direitos Humanos, Asociación Ambiente y Sociedad (AAS) e o Centro de Estudos para o Trabalho e Desenvolvimento Agrário (CEDLA). Neste espaço participaram mais de 50 representantes de organizações da sociedade civil da América Latina e Caribe, entre eles: Centro de Culturas Indígenas do Peru (Chirapaq-Peru), Coalizão pelos Direitos Humanos, Proética (Peru), Confederação de Nacionalidades Indígenas do Amazônia Equatoriana (CONFENIAE-Equador), Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana (OPIAC Colômbia), a Coalizão pelos Direitos Humanos no Desenvolvimento e a Fundación Humedales (Colômbia), a Federação Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad -Peru). Os principais objetivos do evento foram compartilhar informações; analisar o Pacto de Letícia, tanto a sua origem como o processo de elaboração, as brechas e contradições; além de preparar propostas para fortalecer a incidência da sociedade civil na região em relação ao Pacto. Por sua vez, propôs-se analisar iniciativas financeiras como o fundo de bioeconomia do BID, e outras iniciativas como o LEAF, “Redução de Emissões por Aceleração do Financiamento Florestal” (por suas siglas em inglês), em relação a seus vínculos com o Pacto. Cabe destacar que o Pacto de Letícia foi assinado em 2019 pelos estados da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname, como uma narrativa do enfrentamento das pressões e sofrimentos sofridos pela bacia amazônica, mas o lançamento do Este acordo não inclui um olhar para as comunidades locais ou a sociedade civil. Portanto, existem vícios desde o início. Sobre o evento O evento teve início com as boas-vindas de Sergio Guimarães da GT-Infraestrutura e Aida Gamboa do DAR, seguidas das apresentações de Flavio Montiel da International Rivers e Adolfo Chávez da COICA, que explicaram o que é o Pacto e analisaram suas brechas e contradições em relação aos desafios atuais da Amazônia. Em seguida, houve um segundo bloco sobre iniciativas financeiras voltadas para a Amazônia, como o fundo de bioeconomia do BID liderado por Denisse Linares; e sobre o LEAF com Gabriela Soto. Como um terceiro bloco, havia experiências de caso contadas por David Cruz em projetos de bioeconomia; bem como o caso Ferrogrão / Arco Norte de Brasil por Brent Millikang; e finalmente na Rodovia Pró-região em Madre de Dios por Julio Cusurichi. Finalmente, foi concluído um trabalho de grupo para discutir as iniciativas e propostas para influenciar as decisões do pacto. Principais pontos de discussão do evento Durante o “workshop”, o Pacto de Letícia foi discutido como uma oportunidade potencial para fortalecer a colaboração transfronteiriça para a conservação da Amazônia, mas há muitas observações, já que as responsabilidades de cada país não são mencionadas. Por sua vez, o Pacto de Letícia desde seu início não contou com a participação dedois povos indígenas, ou comunidades afrodescendentes, e da comunidade científica, entre outros atores importantes. Portanto, o Pacto possui contradições e falhas em seu conteúdo e, consequentemente, em sua implementação, uma vez que está sendo executado por meio de planos, programas e projetos na Amazônia, que não estão enfrentando adequadamente os desafios da bacia amazônica, como em em relação às ameaças territoriais sofridas por este bioma. Por outro lado, em relação ao Fundo de Bioeconomia do BID, foi mencionado que a articulação com a sociedade civil é necessária para avançar na advocacy, uma vez que há falta de clareza sobre o fundo; bem como a falta de incorporação das economias locais e percepções de desenvolvimento, que acabam inviabilizando a atuação da sociedade civil em relação ao trabalho de defesa e proteção dos direitos ambientais e sociais. Nesse sentido, entre as principais conclusões do evento, considera-se necessário fortalecer e respeitar o marco de direitos humanos; bem como transparência e “prestação de contas” na execução dos dois fundos do BID; bem como exigir mecanismos de governança do Pacto, garantindo uma implementação territorial adequada que promova a participação de todos os atores. Finalmente, acordou-se em publicar uma declaração conjunta sobre o Pacto de Letícia; bem como um roteiro para a continuação das ações de advocacy.

Continuar Lendo »

No ar: Abramovay fala sobre alerta do IPCC e oportunidades para lidarmos com crise do clima

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado na semana passada, deixou muito clara a interferência humana no aquecimento global e deu um alerta vermelho para toda a humanidade: temos muito o que fazer e pouco tempo para agir. Mas será que os tomadores de decisões públicos e privados estão prontos para fazer o que precisa ser feito? No 16º episódio do podcast Infraestrutura Sustentável, disponível no Spotify e aqui no site do GT Infra, Ricardo Abramovay conversa com Sérgio Guimarães sobre os alertas do relatório. Eles falaram sobre desafios e saídas, entre elas a necessidade de se pensar num outro modelo de infraestrutura. Temos muito o que fazer e pouco tempo para agir. Não deixe de ouvir!

Continuar Lendo »

Como a geração elétrica depende das florestas

As lições de Itaipu para conservar e recuperar a vegetação nativa, fonte de água e de chuvas para a usina O novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) alarmou o mundo avisando que algumas consequências que estamos vivendo já são irreversíveis. A Amazônia, segundo o estudo, pode virar uma savana se perder de 3% a 8% a mais de sua cobertura florestal. Isso pode acontecer se não pararmos agora o desmatamento — no ano passado, a área derrubada foi a maior dos últimos 11 anos. Como se não bastasse ter papel fundamental para regular o clima do planeta, as florestas são as nossas fábricas de água e, consequentemente, de energia. Segundo dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as hidrelétricas entregaram 72,6% de todos os MWh consumidos no Brasil no primeiro semestre de 2021. Isso apesar da pior seca dos últimos 91 anos, que nos jogou numa crise energética. Como a chuva que cai do céu vem das florestas, para não ficar sem água e energia, o caminho é cuidar das nossas árvores. Para o setor elétrico, a conservação das florestas deve ser uma prioridade. “No Brasil, com uma matriz energética com grande contribuição da hidroeletricidade, a segurança energética está diretamente associada à segurança hídrica, e nossos recursos hídricos estão associados aos ciclos climáticos e à riqueza de nossos ecossistemas”, explica Ariel Scheffer, superintendente de Gestão Ambiental de Itaipu. A empresa responsável pela gestão da usina percebeu há tempos a relação entre floresta, chuva e energia. “As florestas têm um papel essencial na regulação do ciclo hidrológico, uma vez que a cobertura vegetal contribui na disponibilidade e purificação da água, influencia no regime de precipitação, alimenta o lençol freático e contribui na recarga de aquíferos. Além disso, a vazão regular, cíclica, das chuvas influencia o regime hidrológico dos rios. E a estabilidade do sistema climático-hidrológico é essencial para a segurança hídrica e energética do país”, diz Ariel. A usina de Itaipu realiza ações de conservação e restauração das matas ciliares dos corpos hídricos e nas áreas conhecidas como de recarga das grandes bacias de contribuição para o reservatório. Isso garante um fluxo mais regular para a geração de energia, assim como para outros usos da água. “Aproximadamente 18% da contribuição hídrica ao reservatório de Itaipu, vem do aporte de água ‘produzida’ em cinco bacias hidrográficas que desaguam diretamente no reservatório abaixo de Porto Primavera (em São Paulo) graças aos sistemas naturais”, explica Ariel. Ele acredita que esta “produção local” pode aumentar se houver esforços conjuntos na restauração ambiental. Ele lembra que a relação entre o déficit florestal em matas ciliares, áreas de recarga e nascentes tem sido cada vez mais estudada no Brasil e muitas ações e investimentos de setores dependentes da água, se baseiam na relação água e floresta. Segundo Ariel, Itaipu está atenta à importância de cuidar das árvores desde 1979, quando criou mais de 100 mil hectares de áreas protegidas, implantando floresta ciliar no entorno do seu reservatório. Hoje, essa faixa de proteção possui uma média de 210 metros de largura e ocorre na borda de todo o reservatório. Ao longo do tempo, os objetivos se ampliaram juntamente com a escala de atuação, onde boas práticas se replicam no território de contribuição da bacia hidrográfica do rio Paraná, exigindo da empresa um modelo de gestão ambiental para os usos múltiplos do reservatório e áreas protegidas, com articulações setoriais e arranjos multi-institucional. “Como na natureza todo processo é sistêmico, os resultados diretos dos investimentos em restauração ajudaram a recuperar serviços ecossistêmicos, entre os quais citam-se a redução da erosão marginal e a retenção de sedimentos que iriam para o reservatório, a fixação de carbono pela floresta, entre outros. Além disso, a formação de um corredor de biodiversidade que liga duas importantes unidades de conservação do bioma Mata Atlântica promove a recuperação da biodiversidade regional, com diversos benefícios diretos aos arranjos produtivos da região, como a polinização, regulação hídrica e a amenização dos eventos climáticos extremos”, afirma. A empresa também tem desenvolvido, nos territórios das principais bacias hidrográficas de contribuição do seu reservatório, ações em sinergia com os principais compromissos obrigatórios e voluntários assumidos pelo governo brasileiro. Entre outras ações, eles adotaram mecanismos de certificação em biodiversidade, e fizeram parcerias para gestão ambiental territorial participativa, como a Unidade de Gestão descentralizada da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, que envolve diversos setores, instituições e comunidade para discussão das agendas de desenvolvimento da região. As ações também vão ao encontro do compromisso e atuação nos 17 ODS, em contribuição ao esforço do Brasil para cumprimento da agenda 2030. Cuidar das florestas não deve ser prioridade apenas para quem administra hidrelétricas. As usinas termelétricas também dependem de água para resfriamento. Boa parte dessa água evapora. Ou seja, não volta para os rios depois do uso. Isso significa que as termelétricas são grandes consumidoras de água das nascentes das florestas. Embora as ações para conservar florestas no entorno das usinas elétricas sejam fundamentais, também é essencial olhar para o sistema de geração de chuvas como um todo. E a conservação da Amazônia é decisiva. Existe uma conexão das águas atmosféricas do sistema climático amazônico com o regime climático do Sudeste e Sul do Brasil. Por conta de nossas dimensões continentais e diversidade de biomas, cada um tem sua função nos sistemas climáticos regionais, que regulam o todo. “Como as grandes bacias hidrográficas passam por grandes porções do território nacional e, em alguns casos, por vários biomas brasileiros, podemos dizer que somos um país conectado pelas águas, e que os ecossistemas de uma região influenciam em outra região”, explica Ariel. Os “rios voadores” trazem uma grande quantidade de água do Norte do Brasil para o Sudeste e Sul, influenciando no clima e na regulação hídrica dos rios ao sul e, consequentemente, na geração de energia de dezenas de hidrelétricas no eixo em que desagua este “rio”, como é o caso das usinas localizadas na bacia hidrográfica do rio

Continuar Lendo »

“Obras inviáveis também são formas de corrupção”

Retomada do Ciclo WebGTInfra discutiu corrupção e impactos socioambientais de grandes obras Como a corrupção e a impactos socioambientais se relacionam? De muitas formas. Ao longo das últimas décadas, investigações e denúncias revelaram casos graves de corrupção em diferentes etapas do ciclo de grandes obras de infraestrutura que, não por acaso, também causaram grandes danos socioambientais às regiões onde foram construídas. As relações entre infraestrutura, corrupção e impactos socioambientais, foram o assunto da retomada do Ciclo WebGTInfra, num encontro realizado nesta quarta-feira (18/8) pelo GT Infraestrutura, em parceria com a Transparência Internacional do Brasil. “Esse é um tema fundamental em todos os sentidos para a construção de um país que seja ético em seus indicadores socioambientais”, afirmou o secretário executivo do GT Infra, Sérgio Guimarães, que moderou o evento. Ele lembrou que estamos vivenciando no Brasil diversos retrocessos, tanto na participação da sociedade quanto no marco legal e processos de tomada de decisão. “Discutir corrupção é fundamental para que a sociedade se organize para voltarmos a caminhar para um conjunto de ações necessárias para reduzir e, se possível, acabar com esse problema. Essa é uma tarefa geracional do Brasil”. “Corrupção é um daqueles termos que a gente fala muito, mas pode ter significado distintos”, começou Renato Morgado, Gerente de Meio Ambiente e Clima da Transparência Internacional do Brasil. “Um conceito que a gente pode ter como ponto de partida é entendê-la como o abuso do poder para ganhos privados”. Ele apresentou o estudo “Grandes Obras na Amazônia, corrupção e impactos socioambientais”, lançado recentemente pela organização e que mergulha na raíz do problema. Renato destacou que a corrupção interfere na disputa entre os grupos políticos e na relação entre esses grupos e as empresas privadas. “A corrupção nos rouba, além do dinheiro público, a oportunidade de tomar melhores decisões para o interesse público, colocando na balança as dimensões social, econômica e ambiental de uma obra”. Embora as dimensões de investigação e punição sejam muito relevantes, Renato acredita que precisamos focar nossos esforços em prevenir a corrupção. O relatório traz propostas para isso, divididas em cinco grupos: – Combater a corrupção em licitações e contratos; – Regulamentar o lobby e o conflito de interesse; – Promover reformas de integridade nos setores público e privado; – Fortalecer a participação e o controle social; – Aprimorar a gestão de impactos e o licenciamento ambiental. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Rajão, que também participou da construção do relatório, ressaltou que, se de um lado as grandes obras podem favorecer o crescimento, também podem comprometê-lo no longo prazo, com grandes prejuízos aos contribuintes. “Muitas dessas obras sabidamente envolvidas em esquemas de corrupção acabaram custando muito mais do que foram orçadas”, observou Raoni, que deu exemplo de alguns casos emblemáticos nesse sentido, como a Refinaria Abreu e Lima, que custou caro e deu prejuízos. “Ou é um erro de cálculo ou má fé. Ou os dois”. O professor destacou que precisamos levar muito a sério a inviabilidade econômica dos projetos, mas que muitas vezes o governo faz estudos de viabilização e não de viabilidade. “Toda a dimensão ambiental é vista como burocracia que tem que ser vencida, ou seja, não é considerada de maneira séria”, lamenta. Segundo ele, os contribuintes acabam pagando pelos erros de planejamento do governo, por obras que levam do nada ao nada, favorecendo grilagem e invasão de terras. “Obras inviáveis também são formas de corrupção”, completou. Ana Aranha, Gerente Anticorrupção da Rede Brasil do Pacto Global, apresentou um movimento que pode contribuir muito para prevenirmos a corrupção em infraestrutura: o Movimento pela Integridade do Setor de Engenharia e Construção (MISEC), um exemplo de ferramenta para combater o problema que hoje tem mais de 20 empresas engajadas. “Ele é uma ação coletiva anticorrupção, uma forma de engajar diversas partes interessadas e achar um acordo formal entre eles. A gente precisa falar com todo mundo”, explicou. Ela afirmou que o setor público precisa olhar para a questão, mas que o setor privado também tem o seu papel e pode ser protagonista nessa luta. Um exemplo de resultado do trabalho é a cartilha Integridade no Setor de Construção, que foi discute dilemas e propõe soluções para o mercado. “É um trabalho que dá trabalho, mas cada conquista é gratificante. A proposta é ajudar quem está comprometido.” O debate foi transmitido pelo Youtube do GT Infra e ficou gravado para quem ainda não viu ou quiser rever. Acesse aqui.

Continuar Lendo »

Pisando leve no mundo: o papel protagonista dos indígenas brasileiros

Os povos tradicionais do Brasil têm uma cultura de respeito à natureza que pode ser transformada em valor e fonte de afirmação nacional por Sérgio Guimarães* Os efeitos catastróficos das mudanças climáticas, cada vez mais frequentes, não param de nos lembrar que precisamos mudar radicalmente nossa relação com a natureza. Chuva torrencial na Alemanha, 48 graus no Canadá, 42 em Moscou e incêndios na Califórnia. No Brasil, uma grave crise hidro energética, com incalculáveis prejuízos econômicos para o país e a população. Esses são só alguns eventos que ganharam os noticiários recentemente, provas irrefutáveis de que deveríamos ter dado ouvidos aos alertas que toda a comunidade científica vem fazendo há décadas. Paulo Artaxo, cientista da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) diz que é urgente parar o desmatamento da Amazônia, de queimar combustíveis fósseis e reduzir as emissões de carbono. No caso brasileiro, a floresta processa vapor d’água, produz chuvas, estabiliza o clima e alimenta o agronegócio no Brasil central. “Se o desmatamento continuar avançando, em pouco tempo será impossível plantar soja e criar gado ali. É esse o futuro que queremos? Um país inviável com as mudanças climáticas?”, pergunta com propriedade. Assustados diante da TV ou em frente a tela do computador aberta em um site de notícias, nos perguntamos: o que precisamos fazer de forma diferente? A resposta não é simples, mas o Brasil pode começar a fazer isso olhando para seus povos tradicionais. Eles são exemplos de como estabelecer uma relação de respeito com a natureza, tirando tudo o que precisam para viver bem, mas sem destruir a mãe-terra, que nos dá tudo. Ou seja, sem “matar a galinha dos ovos de ouro”. Além de serem benéficos ao clima, os produtos da floresta carregam consigo o que o mercado chama de valor agregado. A Rede Origens Brasil, concebida pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pelo Imaflora, é um exemplo de como a promoção de negócios sustentáveis na Amazônia pode gerar valor. O projeto, presente nos territórios Xingu, Calha Norte, Rio Negro e Solimões, incentiva as cadeias produtivas de comunidades que trabalham com produtos como óleos vegetais, sementes, frutos, farinha, pimenta, amendoim, mel, peças de vestuário e bijuterias, entre outros, que agora têm um selo de origem, que valida o modo de trabalho que contribui para a preservação do ambiente de onde são extraídos. O resultado é que todos esses produtos agora valem mais nos mercados nacional e internacional. O motivo é que quem vê o selo, sabe que está comprando algo que tem garantia de origem, transparência e rastreabilidade da cadeia produtiva, além de ajudar a promover o comércio ético e que respeita, em todo o seu processo, não só o meio ambiente, mas também seus trabalhadores. Consumidores cada vez mais exigentes estão dispostos a pagar a mais por isso. Mas não é só isso. Nossas comunidades tradicionais são admiradas no mundo todo também pelo seu modo de pensar. Em um dos debates do Ciclo WebGTInfra, promovido pelo GT Infraestrutura, Ailton Krenak, reforçou a necessidade de que: “deveríamos ter infraestruturas de escuta, criadas a partir do chão, coladas na natureza.” Para ele, nossos projetos precisam começar a ser planejados a partir da perspectiva dos povos que vivem nas regiões e da natureza, que também deve ser vista como uma infraestrutura por si só. “Precisamos aprender a pisar leve no mundo, caminhar sem deixar rastro”, afirmou. No mesmo debate, o professor Ricardo Abramovay seguiu na mesma linha de raciocínio: “se tivermos como base que infraestrutura deve ser voltada prioritariamente para atender às necessidades das pessoas, abrimos um horizonte extraordinariamente fértil, que inclusive inclui crescimento econômico e aumento da qualidade de vida”. Ele tem razão! Precisamos acabar com essa conversa fiada de que quem defende as comunidades tradicionais e a preservação ambiental é contra o progresso. Ao contrário, o modo de viver dessas comunidades pode, não só nos ensinar como evitar enormes prejuízos, mas também nos ajudar a gerar valor, renda e milhões de empregos. Os povos tradicionais são especialistas em produzir sem destruir, mantendo a nossa floresta em pé. Como se não bastasse ser a casa de mais da metade da biodiversidade do planeta, a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, vale muito mais preservada. Um dos estudos que mostram isso é o Changes in the Global Value of Ecosystem Services, liderado por pesquisadores australianos, que estimou que o rendimento da Amazônia preservada para o Brasil é de mais de US$ 1,8 trilhões por ano em valor bruto, muito mais que a renda gerada por todas as atividades que desmatam juntas. Todo esse pacote de cultura tradicional, que inclui visão de mundo, tecnologias da floresta, tradições e mitologia, entre outros, também pode ser transformado em valor. As alternativas são incontáveis e vão desde a produção de filmes e séries dirigidos e protagonizados por essas pessoas, que certamente contribuiria para difundir outros modos de ver e se relacionar com a natureza, até o estímulo a um turismo que não seja apenas sustentável, mas também ajude a gerar um senso de identidade, fazendo com que mais gente entenda a importância dessas comunidades, não só pelo que produzem, mas também por tudo que têm a nos ensinar. Os povos podem expressar novas visões de mundo e novos desenhos para a infraestrutura, algo muito mais sofisticado do que extrair e que ainda ajudaria a transmitir não só para nós brasileiros, como também para as pessoas de todo mundo um pouco mais sobre essa visão. Um jeito de andar suavemente pela terra e usar os recursos naturais de maneira respeitosa e inteligente, que é o que o mundo todo está precisando e pedindo como solução para a crise ambiental e civilizatória. E nós temos essa solução dentro de casa. Só é preciso ter ouvidos para ouvir, olhos para ver e mente e coração abertos para aprender e praticar. *Secretário executivo do GT Infraestrutura, rede de mais de 40 organizações comprometidas com a construção de um mundo com mais

Continuar Lendo »

Com o biogás, estados da Amazônia podem gerar eletricidade para mais de 2 milhões de pessoas

Em meio a mais uma crise energética, Brasil literalmente joga mais de 1TWh de eletricidade no lixo Enquanto o Brasil se depara com mais uma crise hídrica e de eletricidade, pagando mais caro na conta de luz e ainda correndo o risco de ficar no escuro, o Instituto Escolhas traz um novo estudo, mostrando que o biogás tem um enorme potencial para gerar energia na Amazônia e ao mesmo tempo contribuir com a gestão de resíduos. O estudo “Biogás: energia limpa para a Amazônia”, lançado nesta segunda-feira, mostra que nos estados da Amazônia é possível produzir 537 milhões de m3 de biogás por ano e gerar 1,1 TWh de eletricidade, o suficiente para atender 556 mil residências e beneficiar 2,2 milhões de pessoas. Esse potencial está no aproveitamento dos resíduos urbanos (o lixo coletado pelos municípios) e dos resíduos da piscicultura e da produção da farinha de mandioca, duas importantes atividades da bioeconomia da Amazônia. De todo o potencial de geração de biogás na região, 98% tem como origem os resíduos urbanos, cujo aproveitamento, além de gerar energia, traz como benefício o tratamento adequado do lixo coletado nos municípios, contribuindo com o meio ambiente, com o saneamento e para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Hoje, apenas 6% dos resíduos urbanos na Amazônia são aproveitados para a geração de energia nos aterros sanitários de Manaus (AM) e Rosário (MA). Larissa Rodrigues, gerente de projetos do Escolhas, reforça que, além da questão energética, o uso do biogás pode significar um incentivo importante para transformar os 243 lixões a céu aberto e os 51 aterros controlados que existem na região, dando tratamento adequado aos resíduos. “Essas unidades já não deveriam existir e a energia limpa do biogás pode ser um componente importante para viabilizar os investimentos necessários para transformá-las em aterros sanitários, contribuindo para resolver um grave problema sanitário e ambiental”, comenta. Além disso, o biogás pode garantir energia segura e reduzir os custos das atividades de piscicultura e produção de farinha de mandioca, impulsionando esses negócios. O estudo destaca que a Amazônia produz mais de 500 mil toneladas de farinha de mandioca (cerca de 40% de toda a produção nacional) e 160 mil toneladas de peixes anualmente. Com os resíduos das casas de farinha seria possível gerar 6 GWh de energia elétrica e nos frigoríficos de abate de peixes, outros 13 GWh de energia elétrica por ano, que podem abastecer esses negócios. Para a gerente do Escolhas, os resultados reforçam a necessidade de considerarmos o enorme potencial do biogás na Amazônia. Para ela, “é preciso criar com urgência um Programa de Geração de Energia do Biogás para estimular essa produção em aterros sanitários e também nos negócios da bioeconomia”. Larissa completa afirmando que é preciso priorizar os investimentos em energias renováveis. “Podemos ter energia limpa e segura na Amazônia e estimular a geração de empregos e renda em muitos negócios”. Para saber mais, clique aqui. Fonte: Instituto Escolhas

Continuar Lendo »

Cinco ideias para prevenir a corrupção em grandes obras da Amazônia

Planejamento e regulamentação são algumas das saídas para reduzir o problema que provoca roubo de dinheiro e florestas públicas Alexandre Mansur e Angélica Queiroz* Grandes obras de infraestrutura são estratégicas para o desenvolvimento regional, social e econômico do país. O problema é que aqui no Brasil elas estão, muitas vezes, relacionadas a casos de corrupção e graves impactos socioambientais. O mais grave deles é o incentivo à grilagem, o roubo de terras públicas, que virou um grande negócio na Amazônia. Nos últimos anos, vários escândalos afetaram a agenda de infraestrutura no Brasil, colocando várias dessas obras sob investigação. A região é carente de muitos investimentos para atender a quem vive lá, que quase nunca são as mesmas grandes obras milionárias que vemos na imprensa. Se essas obras aumentam o desmatamento, passam por territórios indígenas e causam outros danos à maior floresta tropical do mundo, precisam ser repensadas. Afinal, não é novidade que a Amazônia vale muito mais em pé, não só para o Brasil, mas para todo o planeta. É por isso que a comunidade internacional e os investidores estão com os olhos voltados para lá. E nós também deveríamos. Cientes da relevância da questão, a Transparência Internacional-Brasil e o WWF-Brasil fizeram um esforço para compreender as raízes do problema e, a partir daí, pensar num conjunto de recomendações de integridade e transparência, tanto para diminuir os riscos de corrupção tanto para que os empreendimentos conseguissem fazer uma melhor gestão de seus impactos socioambientais. O resultado foi publicado no estudo “Grandes Obras na Amazônia, corrupção e impactos socioambientais”. O trabalho mostra como a corrupção interfere nos processos de tomada de decisão, desde o planejamento e da seleção de qual obra vai ser objeto de investimento público ou privado, passando pelos processos de licitação e contratação, pelo licenciamento ambiental, pela implementação de medidas de compensação e mitigação de danos e até pelos royalties dos investimentos que os geram, como hidrelétricas e empreendimentos de gás, mineração e petróleo. “A escolha de se investir em determinada obra deve levar em conta o interesse público nas suas várias dimensões: econômica, ambiental e social”, afirma Renato Morgado, que é consultor do Programa de Integridade Socioambiental da Transparência Internacional no Brasil. Segundo ele, os benefícios socioeconômicos de um empreendimento devem ser confrontados com seus impactos socioambientais. “A corrupção distorce esse processo e leva ao abuso do poder para ganhos privados. Ela faz com que determinadas obras sejam levadas adiante mesmo que elas não atendam o interesse público mais amplo, o que é um ponto muito grave.” Combater a corrupção não é um problema trivial ou para o qual temos soluções mágicas. O problema é complexo e ainda mais desafiador quando pensamos em grandes obras de infraestrutura. “São processos com elementos técnicos, muitas vezes difíceis de serem compreendidos pela população em geral e que movimentam recursos na casa dos bilhões”, lembra Renato Morgado. “A corrupção boa é aquela que não acontece. Depois que ela acontece, dificilmente a gente vai ter condições de reparar de fato o dano ou responsabilizar de forma adequada os culpados”. As recomendações da Transparência Internacional-Brasil e o WWF-Brasil são nesse sentido de prevenção: 1. Combater a corrupção em licitações e contratos; 2. Regulamentar o lobby e o conflito de interesse; 3. Promover reformas de integridade nos setores público e privado; 4. Fortalecer a participação e o controle social; 5. Aprimorar a gestão de impactos e o licenciamento ambiental. Juntas, essas recomendações podem ajudar a mudar o futuro das nossas grandes obras, que precisam ser diferentes para cumprirmos nossas metas de redução de emissões e fazer com que novos projetos sejam menos suscetíveis à corrupção. O projeto de uma ferrovia cortando a Amazônia, a Ferrogrilo, é um desses com os quais deveríamos estar preocupados, já que a ferrovia cruzará 933 km de floresta preservada, abrindo um filão de desmatamento e grilagem no coração da Amazônia. O GT Infraestrutura acaba de divulgar um trabalho alertando os investidores sobre os riscos e falhas desse projeto, que continua sendo considerado prioritário pelo governo federal, apesar de todos os alertas. “Precisamos acompanhar porque a Ferrogrilo tem todo um ‘jeitão’ de que foi pensada para favorecer a corrupção, já que existem alternativas melhores para escoar a produção da região”, afirmou o secretário executivo do GT Infraestrutura, Sérgio Guimarães, no 15° episódio do podcast Infraestrutura Sustentável. “Quando a gente questiona um projeto, dizem que somos contra o desenvolvimento, o que não é verdade. A gente sabe que o grão existe e precisa ser transportado, mas isso pode ser feito com menos impactos sociais e ambientais, num projeto de infraestrutura que atenda ao interesse público e não apenas de alguns”, completa Sérgio. Há muitas potencialidades de mobilização da agenda anticorrupção a serem exploradas na atuação das organizações que compõem o GT Infraestrutura. Por isso, o assunto também vai ser tema de um webinário, que será realizado no Youtube da rede no próximo dia 18 de agosto, às 17 horas. Precisamos ficar atentos, pois o primeiro passo para alcançarmos uma infraestrutura sustentável é combater a corrupção. *Este artigo foi publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Continuar Lendo »

Ciclo WebGTInfra: corrupção e impactos socioambientais de grandes obras são tema de encontro

Evento acontece no dia 18 de agosto, com transmissão pelo Youtube do GT Infra A corrupção afeta a agenda de infraestrutura de diversas formas. Ela alimenta a pressão sobre a decisão estatal de se fazer ou financiar determinada obra – apesar dos seus riscos e impactos –, viabiliza interferências no licenciamento ambiental, agrava impactos diretos e indiretos, gera problemas na gestão dos recursos voltados à mitigação e compensação e dá abertura à má aplicação dos royalties gerados por alguns tipos de empreendimentos. Diante da importância do tema, o GT Infraestrutura e a Transparência Internacional – Brasil realizam, na próxima quarta-feira (18/8), às 17h, o webinário: “Corrupção e impactos socioambientais de grandes obras: quais as relações entre essas agendas?”.  Ao longo das últimas décadas, investigações e denúncias revelaram casos graves de corrupção em diferentes etapas do ciclo de grandes obras de infraestrutura. Alguns desses casos se relacionam com as maiores e mais controversas obras realizadas no país nos últimos anos, como nos casos das Hidrelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio. Apesar da relevância, o ângulo da corrupção ainda é pouco explorado e debatido pelas organizações que atuam na agenda de infraestrutura, especialmente daquelas que debatem o tema a partir de seus impactos socioambientais. O evento, transmissão pelo  Youtube do GT Infra, faz parte do Ciclo WebGTInfra e pretende ser um espaço de diálogo sobre as relações entre infraestrutura, corrupção e impactos socioambientais, além de explorar as potencialidades da mobilização da agenda anticorrupção na atuação das organizações que compõem o GT Infraestrutura. As inscrições estão abertas no link.  

Continuar Lendo »

No ar: Renato Morgado fala sobre a relação entre corrupção e impactos socioambientais em grandes obras no Brasil

Episódio 15 traz propostas para prevenir a corrupção em obras na Amazônia Uma análise feita pela Transparência Internacional – Brasil e o WWF-Brasil mostra algumas mudanças que o Brasil precisa implementar para prevenir grandes obras de infraestrutura de ilegalidades e proteger a floresta e as comunidades locais de impactos socioambientais negativos. O estudo: “Grandes Obras na Amazônia, corrupção e impactos socioambientais”, mergulha na raíz dos problemas e traz propostas para evitar que eles continuem atingindo empreendimentos de infraestrutura na região da Amazônia. Nosso convidado do episódio 15 do podcast Infraestrutura Sustentável é Renato Morgado, consultor do Programa de Integridade Socioambiental da Transparência Internacional no Brasil, que conta tudo sobre esse trabalho. O episódio está disponível no Spotify ou aqui no site. Boa escuta!

Continuar Lendo »

Infraestrutura na Amazônia, sim, para o amazônida

Tecnologias de ponta na ponta Caetano Scannavino* A usina de Tucuruí no Pará foi inaugurada nos anos 80 para gerar energia ao país e à indústria do alumínio. As comunidades do entorno, além de conviverem com os impactos do empreendimento, só tiveram acesso à luz elétrica vinte e poucos anos depois. Os paraenses seguem pagando a maior tarifa da federação, apesar do estado ser o 2º maior produtor de energia do Brasil. E seguimos exportando alumínio para importar bicicletas de alumínio. Em geral, a visão nacional de desenvolvimento ainda nos remete a grandes projetos de infraestrutura na Amazônia, sejam minerários, hidrelétricos ou viários. Planejados para atender o resto do país, nem sempre se convertem devidamente em benefícios para os quase 25 milhões de brasileiros que vivem no bioma. Se comparada com outras regiões, há um abismo infra-estrutural gigantesco no acesso dos amazônidas às políticas sociais e aos serviços básicos de saúde, educação, energia, transportes, comunicações e saneamento. A luz elétrica já alcançou 98% dos lares brasileiros, mas é na Amazônia onde se encontra grande parte dos excluídos. Isso traz um limitante para qualidade de vida não apenas pela iluminação, como também para as telecomunicações, agregação de valor nas cadeias produtivas, conservação de alimentos e medicamentos. Com a Covid-19, as mazelas sociais amazônicas ficaram ainda mais escancaradas quando vimos que São Paulo entrou na pandemia com um respirador para cada 2,4 mil habitantes, enquanto em Macapá/AP havia um aparelho para cada 9 mil, ou em Santarém/PA, um para cada 20 mil. Como agravante, além da insuficiência de respiradores, vimos locais colapsados também pela falta de oxigênio para abastecê-los. Enquanto mais de 90% da população do Sudeste têm acesso à rede de água, esse número cai para apenas 57% na região Norte, onde somente 10,5% dos seus moradores têm esgoto coletado (Trata Brasil/2020). É um paradoxo que na maior bacia de água doce do mundo, em cima do maior aquífero do Planeta, com reservas que poderiam abastecer a humanidade por 250 anos, os ribeirinhos sofram de estresse hídrico, dependentes das águas contaminadas dos rios. É a origem de boa parte das doenças e maior causa da mortalidade infantil, decorrente das diarréias e da desidratação. Sem querer desmerecer as devidas preocupações com as florestas, com o desmatamento, o fato é que não basta só o ambiental sem respostas ao social. Segundo a pesquisa Decisores da Amazônia (Mundo Que Queremos / Clima e Sociedade), a saúde é vista como o principal problema para três em cada quatro moradores da Amazônia Legal, entendida como a área mais carente em infraestrutura nos municípios da região. E num território onde municípios têm o tamanho de países – dos dez mais extensos do mundo, seis estão na Amazônia – o quadro de exclusão é ainda mais agudo nas zonas rurais, com populações dispersas, esparsas, de difícil acesso, e altos custos logísticos. Como as políticas básicas são de competência dos governos locais, a conta jamais fechará se a equação continuar simplificada ao número de habitantes versus receitas. Não são fáceis os desafios de uma Prefeitura como a de Altamira/PA para distribuir a merenda escolar seguindo o padrão custo-aluno ou implementar a atenção básica via tabela SUS junto aos seus cidadãos espalhados em uma área maior que a Grécia ou Portugal. Para isso, estratégias diferenciadas que atendam às peculiaridades amazônicas devem ser priorizadas na formulação de políticas para região, adaptadas e includentes, assim como o estímulo às alianças, à participação local e ao desenvolvimento de tecnologias sociais apropriadas, demonstrativas e escaláveis para impactar o território como um todo. Já existem algumas iniciativas neste sentido. Temos visto melhores resultados quando tomadores de decisão adotam uma postura mais proativa de cooperação e soma de esforços mobilizando comunidades, associações de bairros, academia, organizações do terceiro setor e programas de responsabilidade empresarial. Um bom exemplo vem do Tapajós, com o modelo de saúde básica através do barco-hospital Abaré tendo virado política pública nacional. A experiência implementada pela ONG Projeto Saúde e Alegria (PSA), junto com as Prefeituras locais e representações comunitárias, inspirou a Estratégia de Saúde da Família Fluvial. Lançada há pouco mais de 10 anos pelo Ministério da Saúde, tem apoiado os municípios da Amazônia e do Pantanal, contando hoje com mais de 60 embarcações de atendimento (UBSF) à ribeirinhos de zonas remotas. Em meio a pandemia, vale destacar também o trabalho da ONG Expedicionários da Saúde, com as Unidades de Atenção Primária Indígena no apoio aos DSEIs (Distrito Sanitário Especial Indígena). Desenhadas para o enfrentamento das síndromes gripais e da Covid-19, as UAPIs contam com uma configuração de equipamentos que permite inclusive o tratamento de oxigenoterapia nas próprias aldeias, reduzindo assim situações de agravos e remoções para as cidades. No campo do saneamento, seja através do PSA ou de outras organizações afins, tem-se inovado em tecnologias de captação de chuvas, sistemas de abastecimento e tratamento da água, movidos a energia solar, sem necessidade de diesel ou baterias, o que facilita a sustentação pelos próprios moradores. Assista aqui o vídeo de Saneamento e Água nos Munduruku. Empreender em pólos isolados e longínquos demanda soluções que tenham resolutividade, garantias de manutenção, e gerem autonomia comunitária. Se por um lado as coisas demoram mais para chegar na Amazônia, que quando cheguem, sejam o que há de mais avançado. Por outro lado, para que se constituam em tecnologias de ponta, na ponta, é preciso desenvolvê-las junto com a comunidade, de forma adequada ao universo cultural e capacidades locais para sua boa gestão. Caso contrário, corre-se o risco de aumentar a manada de elefantes brancos dos tantos empreendimentos que, mesmo bem-intencionados, hoje se encontram abandonados no meio do mato. Por isso a importância dos movimentos de base (indígenas, quilombolas, agroextrativistas), das organizações não-governamentais, dos projetos de extensão e das parcerias público-privadas que atuam na ponta com metodologias participativas de cocriação e empoderamento comunitário. Nesse sentido, modelos de energias renováveis para eletrificação rural, de telecentros de acesso a internet para inclusão digital, de processamento de alimentos, de beneficiamento de produtos florestais para agregação de valor, entre outras

Continuar Lendo »

Organizações cobram fortalecimento do MPF contra crime ambiental na Amazônia

Carta enviada à Procuradoria-Geral da República e ao Conselho Superior do Ministério Público Federal destaca resultados da Força-Tarefa Amazônia, criada em agosto de 2018 e encerrada em fevereiro deste ano DA TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL BRASIL – Cinquenta e seis organizações da sociedade civil, entre elas, o GT Infraestrutura, Transparência Internacional – Brasil, WWF-Brasil, Human Rights Watch, Conectas e Instituto Igarapé, enviaram uma carta à Procuradoria-Geral da República e ao Conselho Superior do Ministério Público Federal destacando a importância do fortalecimento da atuação do MPF no combate aos crimes e à degradação ambiental na Amazônia. A carta cita a preocupação das organizações com a descontinuidade da Força-Tarefa Amazônia em fevereiro deste ano, sem haver sinalização acerca de sua renovação ou de alguma outra estrutura que pudesse substituí-la no combate às ilegalidades praticadas na região. De acordo com as organizações, além da medida representar um recuo na atuação do MPF, ela traz consigo a perda de uma ação mais coordenada e estratégica do órgão no combate a essas ilegalidades, benefícios que a Força-Tarefa proporcionava. Isso tudo em um cenário de avanço da degradação ambiental, que pode ser evidenciada pelo aumento das taxas de desmatamento e queimada no bioma, bem como pelo crescimento da exploração de madeira e garimpo ilegais. As organizações também deixam claro no documento que os crimes ambientais não apenas trazem prejuízos à sustentabilidade socioambiental, mas também podem causar danos econômicos, como restrições dos produtos brasileiros no mercado internacional, fuga de investimentos e dificuldades na assinatura de acordos comerciais. “É momento de fortalecer as estruturas que investigam e punem o crime ambiental, sobretudo no momento em que as taxas de desmatamento e queimadas batem recordes. É isso que vai colocar o Brasil na rota exigida pelo século XXI e pelos desafios da crise climática. Do contrário, estaremos na contramão do mundo, correndo o risco de ver o fechamento dos mercados internacionais para as commodities agrícolas brasileiras” explica Michel Santos, gerente de políticas públicas do WWF-Brasil. O texto enviado ao MPF e ao CSMPF enfatiza que por trás dos crimes ambientais também há uma estrutura que envolve grupos organizados que realizam diversas práticas criminosas que servem de “sustentação” à ilegalidade ambiental. “Os crimes ambientais na Amazônia não ocorrem de forma isolada. Muitas vezes estão associados a práticas ilícitas como corrupção, lavagem de dinheiro, fraudes, evasão fiscal, formação de milícias e assassinatos. Combater os crimes ambientais é também promover a segurança pública, a integridade das instituições e o próprio Estado de Direito. O Ministério Público Federal tem um papel fundamental nisso e precisa fortalecer a sua atuação na região” comenta Renato Morgado, gerente de Meio Ambiente e Clima da Transparência Internacional – Brasil. Recomendações apresentadas na carta – As organizações defendem que a Força-Tarefa Amazônia, que já apresentou resultados importantes no enfrentamento ao problema (foram mais de 19 operações contra crimes ambientais realizadas), seja fortalecida ao invés de ser descontinuada. No entanto, caso se mantenha a decisão pela sua não renovação, a proposta é que o MPF estabeleça uma estrutura permanente para a Amazônia, que permita maior coordenação e escala de atuação, especialmente dedicada ao combate dos crimes ambientais e da degradação ambiental, aproveitando, inclusive, da experiência da própria Força-Tarefa. “A política de enfraquecimento das ações de fiscalização ambiental e de proteção aos territórios indígenas, intensificadas a partir de 2019, deram sinal verde às redes criminosas que promovem a destruição ambiental, muitas vezes cometendo atos de violência contra aqueles que se colocam em seu caminho. É preocupante que num momento tão crítico o Ministério Público Federal não tenha uma estrutura dedicada ao combate ao desmatamento ilegal e outros crimes ambientais“, afirmou Anna Livia Arida, diretora adjunta da Human Rights Watch no Brasil. Independentemente do formato institucional escolhido, as entidades demandam que tal estrutura tenha os recursos humanos e materiais necessários para a sua atuação, incluindo procuradores com dedicação exclusiva. Na mesma direção, reforçam que é necessário o fortalecimento de forma ampla do MPF na região, com mais ofícios e procuradores dedicados a temas ambientais e à proteção de direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais. Por fim, as organizações sugerem a manutenção e o fortalecimento de iniciativas do MPF que incidem na região, como o Amazônia Protege, que de forma inovadora permite a instauração de ações civis públicas na escala necessária para o enfrentamento do desmatamento no bioma. Acesse a íntegra da carta neste link. Sobre a Transparência Internacional/ Brasil – A Transparência Internacional é um movimento global com um mesmo propósito: construir um mundo em que governos, empresas e o cotidiano das pessoas estejam livres da corrupção. Atuamos no Brasil no apoio e mobilização de grupos locais de combate à corrupção, produção de conhecimento, conscientização e comprometimento de empresas e governos com as melhores práticas globais de transparência e integridade, entre outras atividades. A presença global da TI nos permite defender iniciativas e legislações contra a corrupção e que governos e empresas efetivamente se submetam a elas. Nossa rede também significa colaboração e inovação, o que nos dá condições privilegiadas para desenvolver e testar novas soluções anticorrupção. Foto: Felipe Werneck

Continuar Lendo »